quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O EVANGELHO NA UMBANDA


"-Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem por base o Evangelho de Jesus e como mestre supremo o Cristo". (Caboclo das 7 Encruzilhadas, 16.11.1908).

Como se observa no relato histórico acima destacado, o Caboclo das 7 Encruzilhadas - o qual, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, trouxe ao plano material a Umbanda - estabeleceu o Evangelho de Jesus como base da nova religião, além de proclamar o próprio Cristo como seu mestre supremo.

Todavia, muito mais importante que ter a imagem de Cristo em destaque nos altares dos templos, o estudo e a prática do evangelho do Mestre deve ser atividade comum e permanente dentro de uma casa de Umbanda. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos de Jesus, a casa está fadada a ruína.

Não à toa, nossos queridos Pretos Velhos, quando manifestados, abençoam seus filhos em nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo". Igualmente, a Linha dos Baianos tem por padroeiro Nosso Senhor do Bonfim, que nada mais é que a representação de Jesus crucificado.

Ressalte-se, porém, que, quando o Caboclo falou no Evangelho de Jesus, obviamente que não se referia a bíblia em si, com suas Leis Mosaicas já arcaicas - mas porém necessárias ao povo da época. Referia-se o Caboclo aos ensinamentos morais trazidos por Jesus.

Ainda que Jesus encarnou em uma sociedade judaica, que tinha a Torá como Lei suprema na época, ao ser questionado qual era o mandamento a ser seguido, ele assim respondeu: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas. (Mt 22, 35-40).

Portanto, mais importante do que qualquer forma dogmática, vestimenta, alimentação, Cristo veio anunciar que o maior mandamento é o amor à Deus e ao próximo. Tanto que Jesus, em nenhum momento impôs conversão ou instituiu qualquer tipo de religião dogmatizada. Sua religião era apenas o amor!

E a prática do amor consiste não apenas em amar os amigos, como Ele mesmo ensinou, mas sim, amar também os inimigos, os caluniadores, os que atentam contra nossa paz, por que são irmãos desajustados do caminho. Portanto, seguir a Cristo é ser tolerante, paciente e bom, principalmente para com aqueles que nos tenham feito mal.

Infelizmente, com o passar dos anos, a moral crística acabou se perdendo, instituições tiranas que diziam ser o detentor exclusivo do "poder" de Cristo, passaram a perseguir, torturar e matar pessoas que não comungavam da mesma fé, em total dissonância dos ensinamentos deixados por Cristo. Além disso, Cristo virou mercadoria, no qual pessoas de má-fé utilizam-o para amedrontar os mais ignorantes e assim arrancar-lhes dinheiro. 

Mas, como a espiritualidade não desiste da Terra, presenteou Allan Kardec com a Obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo", na qual os ensinamentos morais do Cristo são novamente ressaltados, deixando de lado toda e qualquer passagem que esteja fora dos seus ensinamentos.

E é justamente esse iluminado livro que deve ser estudado, entendido e praticado. Com explicações dos espíritos superiores e mensagens complementares, o Evangelho Segundo o Espiritismo é um verdadeiro roteiro de conduta a ser seguido por todos, principalmente pelos médiuns que possuem a caridade como meta!

Questões meramente materiais, organizações institucionais, cargos, nada supre a modificação moral através dos ensinamentos de Cristo. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos, o médium passa a ter uma visão meramente materialista das situações e acaba por deixar que as ervas daninhas do orgulho, egoísmo, vaidade, cresçam em solo onde apenas as boas sementes deveriam germinar.

Por exemplo, não basta alguém receber um cargo de pai/mãe de santo, se não ser humilde, se não souber tratar as pessoas de forma caridosa. Impossível que a mesma boca que dentro do terreiro fala em paciência e amor, após a sessão, no cotidiano, seja usada para falar palavrões, para humilhar e ofender outras pessoas. A modificação moral do médium não deve ocorrer apenas nos dias de sessões, mas sim em todos os atos de sua vida, pois não se deixa de ser médium quando a sessão termina!

Orar e vigiar são ensinamentos de Cristo, que devem sempre ser relembrados por aqueles que optaram em se dedicar em prol da caridade dentro de uma casa de Umbanda. Como dito acima, sem esse estudo e, principalmente, sem a prática, o médium está fadado ao fracasso e se for um dirigente espiritual sua casa está fadada ao fracasso! 

Portanto, assim como determinou o Caboclo das 7 Encruzilhadas, fundador desta maravilhosa religião, utilizemos o evangelho consolador do Cristo como base de nossa fé, e nele encontraremos respostas que nos farão seguir de forma produtiva nossa humilde missão de praticar a caridade.

Saravá a Umbanda!



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