sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O PONTO CANTADO


Mais do que mera "música" para "alegrar" o ambiente, o ponto cantado tem uma função específica dentro da liturgia umbandista, razão pela qual deve ser compreendido por seus praticantes, em especial pelos Ogans.

Infelizmente, é possível perceber através das redes sociais, uma degeneração dos pontos cantados. Percebe-se que muitos são feitos sem qualquer conhecimento da liturgia da religião e o que ela prega e acredita. Pior ainda, são "pontos" que abordam pornografias, palavrões, citam expressões como: diabo, lúcifer, capeta, inferno, dentre outras expressões que não condizem com o vocabulário Umbandista, causando mais dúvidas e confusões para aqueles que não conhecem a religião.

O ponto cantado é uma oração. É através dele que pedimos proteção e que evocamos energias. É através do ponto que o médium se concentra, se isola da vida cotidiana e passa a criar a psicoesfera do congá, o que é fundamental para a manifestação dos espíritos que ali atuam.

Por se tratar de uma oração, o ponto deve ser bem feito. Caso não seja a própria entidade que passe o ponto, o Ogan deve, além da inspiração espiritual, ter conhecimento do que está escrevendo. Portanto, se o ponto é para determinado Orixá, deverá saber o que esse Orixá representa, qual seu campo de atuação, quais suas saudações e oferendas, suas cores, etc. Se não tiver esse conhecimento, correrá o risco de fazer um ponto ilógico, sem conexão com o conhecimento da própria fé que professa, fazendo nada mais que uma música com rimas e melodia.

Portanto, como em qualquer atividade dentro da religião, é imprescindível o estudo e o conhecimento para fazer um ponto cantado.

Como destacado no início, infelizmente, é comum encontrar pontos, especialmente na linha de Exu, que acabam por deturpar ainda mais a imagem dessas entidades e contribuir para o preconceito da sociedade. Qualquer Umbandista sério sabe muito bem que Exu não é diabo, que não é vermelho, que não tem chifre, rabo e que muito menos existe um lugar chamado inferno. Contudo, algumas pessoas acabam por incluir tais expressões em suas cantigas, jogando ao chão a vibração do ambiente e prestando um desserviço à religião.

Da mesma forma os pontos de Pombagira. Ao invés de alguns dos pontos realçarem o trabalho dessas entidades no combate as feitiçarias, procuram reforçar o precoceito popular de que são entidades "prostitutas" que praticam promiscuidades e que fazem todo o tipo de trabalho.

Também, na "moda" dos terreiros, a Linha de Malandros e Seu Zé Pilintra, cujos trabalhos, assim como as demais linhas intermediárias, estão no combate à feitiçaria e a abertura de caminhos, acabam sendo retratadas nos famigerados pontos cantados como uma linha de espíritos "malandros" no mal sentido, burladores, alcoólatras e criminosos.

Ora, se buscamos dentro de um templo religioso boas energias e virações, devemos elevar o pensamento a tais energias e não deturpá-las com baixarias e coisas que nada tem haver com tais espíritos. Infelizmente, muitas casas confundem a curimba com um grupo de samba, onde tudo é permitido e onde o toque é mais importante do que a letra e o significado do ponto.

Na nossa Tenda, tais pontos são banidos. Não se é permitido que se cante qualquer ponto que dissemine preconceitos, que denigra a imagem de espíritos e pessoas, bem como promova a desinformação da doutrina.

O Ponto cantado, como já mencionado, contribuiu para a concentração do médium e cria uma psicoesfera propícia a manifestação das linhas que atuam na Umbanda. Portanto, os Ogan e os filhos de fé, devem saber o que estão cantando, devem cantar sentido no coração cada palavra.      

É através do ponto cantado que se passa um pouco da doutrina umbandista, do que se procura dentro de um terreiro e quais as energias que se quer por perto. Portanto, trata-se de importantíssima ferramente às mãos dos Ogans para contribuir no progresso, não só dos médiuns em desenvolvimentos e das entidades em trabalho, mas também da própria religião.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O EVANGELHO NA UMBANDA


"-Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem por base o Evangelho de Jesus e como mestre supremo o Cristo". (Caboclo das 7 Encruzilhadas, 16.11.1908).

Como se observa no relato histórico acima destacado, o Caboclo das 7 Encruzilhadas - o qual, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, trouxe ao plano material a Umbanda - estabeleceu o Evangelho de Jesus como base da nova religião, além de proclamar o próprio Cristo como seu mestre supremo.

Todavia, muito mais importante que ter a imagem de Cristo em destaque nos altares dos templos, o estudo e a prática do evangelho do Mestre deve ser atividade comum e permanente dentro de uma casa de Umbanda. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos de Jesus, a casa está fadada a ruína.

Não à toa, nossos queridos Pretos Velhos, quando manifestados, abençoam seus filhos em nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo". Igualmente, a Linha dos Baianos tem por padroeiro Nosso Senhor do Bonfim, que nada mais é que a representação de Jesus crucificado.

Ressalte-se, porém, que, quando o Caboclo falou no Evangelho de Jesus, obviamente que não se referia a bíblia em si, com suas Leis Mosaicas já arcaicas - mas porém necessárias ao povo da época. Referia-se o Caboclo aos ensinamentos morais trazidos por Jesus.

Ainda que Jesus encarnou em uma sociedade judaica, que tinha a Torá como Lei suprema na época, ao ser questionado qual era o mandamento a ser seguido, ele assim respondeu: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas. (Mt 22, 35-40).

Portanto, mais importante do que qualquer forma dogmática, vestimenta, alimentação, Cristo veio anunciar que o maior mandamento é o amor à Deus e ao próximo. Tanto que Jesus, em nenhum momento impôs conversão ou instituiu qualquer tipo de religião dogmatizada. Sua religião era apenas o amor!

E a prática do amor consiste não apenas em amar os amigos, como Ele mesmo ensinou, mas sim, amar também os inimigos, os caluniadores, os que atentam contra nossa paz, por que são irmãos desajustados do caminho. Portanto, seguir a Cristo é ser tolerante, paciente e bom, principalmente para com aqueles que nos tenham feito mal.

Infelizmente, com o passar dos anos, a moral crística acabou se perdendo, instituições tiranas que diziam ser o detentor exclusivo do "poder" de Cristo, passaram a perseguir, torturar e matar pessoas que não comungavam da mesma fé, em total dissonância dos ensinamentos deixados por Cristo. Além disso, Cristo virou mercadoria, no qual pessoas de má-fé utilizam-o para amedrontar os mais ignorantes e assim arrancar-lhes dinheiro. 

Mas, como a espiritualidade não desiste da Terra, presenteou Allan Kardec com a Obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo", na qual os ensinamentos morais do Cristo são novamente ressaltados, deixando de lado toda e qualquer passagem que esteja fora dos seus ensinamentos.

E é justamente esse iluminado livro que deve ser estudado, entendido e praticado. Com explicações dos espíritos superiores e mensagens complementares, o Evangelho Segundo o Espiritismo é um verdadeiro roteiro de conduta a ser seguido por todos, principalmente pelos médiuns que possuem a caridade como meta!

Questões meramente materiais, organizações institucionais, cargos, nada supre a modificação moral através dos ensinamentos de Cristo. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos, o médium passa a ter uma visão meramente materialista das situações e acaba por deixar que as ervas daninhas do orgulho, egoísmo, vaidade, cresçam em solo onde apenas as boas sementes deveriam germinar.

Por exemplo, não basta alguém receber um cargo de pai/mãe de santo, se não ser humilde, se não souber tratar as pessoas de forma caridosa. Impossível que a mesma boca que dentro do terreiro fala em paciência e amor, após a sessão, no cotidiano, seja usada para falar palavrões, para humilhar e ofender outras pessoas. A modificação moral do médium não deve ocorrer apenas nos dias de sessões, mas sim em todos os atos de sua vida, pois não se deixa de ser médium quando a sessão termina!

Orar e vigiar são ensinamentos de Cristo, que devem sempre ser relembrados por aqueles que optaram em se dedicar em prol da caridade dentro de uma casa de Umbanda. Como dito acima, sem esse estudo e, principalmente, sem a prática, o médium está fadado ao fracasso e se for um dirigente espiritual sua casa está fadada ao fracasso! 

Portanto, assim como determinou o Caboclo das 7 Encruzilhadas, fundador desta maravilhosa religião, utilizemos o evangelho consolador do Cristo como base de nossa fé, e nele encontraremos respostas que nos farão seguir de forma produtiva nossa humilde missão de praticar a caridade.

Saravá a Umbanda!



T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita