ESPAÇO DOS OGANS


Esta é uma página destinada aos Ogans de Umbanda, bem como, a todos aqueles que se interessam pelos atabaques e que gostariam de saber mais sobre esse instrumento sagrado.


HISTÓRIA DO TAMBOR



Tambores são tão ancestrais quanto o próprio homem. Os primeiros foram criados e manuseados ainda na Pré – História, com o objetivo de cultuar Deuses e como forma de agradecer a comida conseguida por meio da caça aos animais.

Milênios se passaram e centenas de representações religiosas ou espirituais foram criadas de acordo com a cultura e a cosmovisão de cada povo, de cada etnia, principalmente de acordo com os padrões sócio – econômicos de cada época. Imagens, cerimônias, mitologia, liturgias, símbolos, tambores, chocalhos e atabaques, são expressões da arte na religiosidade e na espiritualidade.

O homem pré – histórico acreditava que a pele de sua caça esticada em troncos de arvores reproduzia o choro do animal morto. E foi com esse sentimento de gratidão que passou a consagrar a morte de sua caça. Pode – se dizer que esse foi um dos princípios da manifestação religiosa do homem e a origem dos tambores. O toque do tambor revela a arte de conectar – se com a Mãe Terra e com nosso eu interior, sintonizando nosso coração ao coração dela, e de viajar ao mundo do invisível, constatando nossa ancestralidade e todos os reinos da Natureza.

Os tambores são utilizados desde as mais remotas eras da humanidade. Acredita – se que os primeiros tambores fossem troncos ocos de arvores tocados com as mãos ou galhos. Posteriormente, quando o homem aprendeu a caçar e as peles de animais passaram a ser utilizadas na fabricação de roupas e outros objetos, percebeu – se que ao esticar uma pele sobre o tronco, o som produzido era mais poderoso. Pela simplicidade de construção e execução, tipos diferentes de tambores existem em praticamente todas as civilizações conhecidas. A variedade de formatos, tamanhos e elementos decorativos dependem dos materiais encontrados em cada região e dizem muito sobre a cultura que os produziu. São típicos nos cultos afro – brasileiros; na dança, nos pontos cantados, no transe.

Em sua fase mais primitiva, a manifestação religiosa do homem tinha como base principal o contato com as divindades – o transe.

A musica e a dança sempre foram os principais feradores dessa comunicação com os Deuses. Alguns historiadores e antropólogos do século vinte destacaram a idéia de que a maneira utilizada para se chegar aos conhecimentos místicos em religiões primitivas, esteve sempre associada ao êxtase ( o transe ) provocado pelo toque do tambor. Esse instrumento seria então o responsável pela comunicação entre o homem e as divindades – seres responsáveis pelo comando da Natureza em nosso planeta.

Mesmo nas religiões mais antigas, o toque dos tambores também foi utilizado não somente para o culto às divindades, mas também como forma de manter contato com os espíritos dos mortos.

Tão comum nas religiões primitivas, segundo a Bíblia, essa pratica foi “proibida por Deus” aos filhos de Israel. Isso acabou por gerar, ao passar do séculos, que a crença dos mais antigos – o fato do tambor constituir – se em instrumento sagrado, e que seu toque fosse utilizado como forma de contato entre os homens e o mundo invisível, pertencente às divindades e aos espíritos dos ancestrais, fosse uma simples superstição. (...).

Os Tambores na África

Nas sociedades africanas, a tradição oral é o método pelo qual histórias e crenças religiosas são passadas de geração em geração, transmitindo elementos de uma cultura. Uma parte integrante da tradição oral africana é, sem duvida, a dança e o canto, e o mais importante instrumento musical africano é o tambor, em diferentes tamanhos e formas e para diferentes fins.

O tambor é utilizado para enviar e receber mensagens espirituais, e é essencial na preservação da tradição oral. Na religião africana de culto aos Orixás e Ancestrais, é considerado sagrado, e seu tocador é classificado como um comunicador oral. Aquele que toca o tambor é um orador e um comunicador de mensagens sagradas.


Djembe

No ritual religioso, os tambores são o inicio de tudo, sempre representaram papel muito importante na cultura africana. Existe um antigo provérbio que diz: ” Quando os tambores são tocados, eles não mentem “.

  O  "Djembe" é possivelmente o mais influente e a base de todos os outros tambores africanos, e remota há pelo menos 500 anos d.C. é um tambor sagrado utilizado em cerimônias de cura, rituais de passagem, culto aos ancestrais e ainda em danças e socialmente. 

Os Tambores Batá

A origem dos tambores Bata remonta há mais de 500 anos, e sua história sobreviveu juntamente com o povo Yorubá, que chegou à América como escravo, mostrando a profundidade dessa religião e cultura, das quais é parte importante. O tambor Bata faz parte da prática religiosa chamada de “Santeria”, desenvolvida em Cuba e nos EUA, com influencia principal da religião tradicional Yorubá, mas também de outros grupos étnicos, como os de língua Bantu, da região do Congo.

Tambores Batá

Os tambores Bata podem falar, e não no sentido metafórico, podem realmente ser usados para recitar preces religiosas, poesias, saudações e louvores. Em Cuba, são utilizados em todas as cerimônias relacionadas ao Orixás, e recebem o nome de ‘ Bata de Fundamento’. Sua fabricação e consagração requerem toda uma força espiritual, que é inserida dentro de seu cilindro de madeira. Ao ser consagrado, recebe o nome de ‘ Ayàn ‘.

Tambores em rituais Indígenas Brasileiros

Um dos mais importantes instrumentos sonoros das culturas indígenas do Brasil, por se relacionar com o lado pratico, musical e religioso, é o tambor. Existem os tambores de madeira, tambores de tábua, tambores de tronco escavado, feitos e moldados a fogo.

Alguns tipos de tambores indígenas:



a.. Tambor Catuquinaru: Instrumento de sinalização.
b.. Tambor de Fenda: Feito de uma tora de madeira e escavado por meio de pedras incandescentes.
c.. Tambor de Carapaça: Feito de Carapaça de tartaruga.
d.. Tambor de Cerâmica: Consiste num vaso de barro, tendo abertura fechada com couro. É um velho elemento de civilização, talvez representando um dos mais antigos tambores do mundo.


e.. Tambor de Pele: Confeccionado com um cilindro de madeira, geralmente fechado de um lado só. A fixação da pela é feita com cipós, por meio de compressão.

Os tambores feitos de tora de madeira tanto existem nas tribos brasileiras, quanto entre populações da África e Oceania. Também os tambores de cerâmica podem ser encontrados na África. 
(...).

O Poder dos Tambores Indígenas

Na cultura dos índios americanos, os tambores são objetos sagrados, usados pelo Xamã ( líder espiritual ) na cerimônias de cura. Também servem para proteger o ambiente.

De acordo com os princípios do Xamanismo, cada pessoa tem um bicho de poder que o acompanha por toda a vida. Para descobrir qual é o animal de cada um, é feita uma jornada xamânica em que a pessoa relaxa ao som do tambor e visualiza a imagem do bicho. Feita a descoberta, o animal é então pintado no tambor.

Os nativos norte – americanos associam o toque do tambor às batidas do coração da Mãe – Terra e também ao som do útero. O tambor dá acesso à força vital através de seu ritmo. É a canoa que leva ao mundo espiritual, o instrumento que faz a comunicação entre o Céu e a Terra. É usado para ativar e curar o nosso espírito, alinhando – se com a vibração do nosso coração e com a Mãe Terra. Cada tambor tem seu próprio som, sem igual. Usado em cerimônias, danças, canções e para celebrar. 

Os Tambores Xamânicos

Os tambores xamânicos existem há pelo menos 40 mil anos em todas as cultuar tradicionais do planeta. Está associado à direção Sul, ao arquétipo do Curador, ao elemento Terra, às criaturas de Quatro Patas e com a qualidade da Cura. É utilizado para produzir diversos tipos de ritmos com finalidades diferenciadas, desde a musica para a celebração e a dança até o toque constante, que leva ao transe profundo ou ao frenesi coletivo.

Tambor Xamânico
Muitos Xamãs usam seu tambor para realizar diversos tipos de cura, como o resgate de uma alma perdida ou sair viajando por outras dimensões do ser em busca de visões e conhecimento. Durante as experiências são comuns as visões de Animais de Poder, Aliados Espirituais, ou outras visões de poder ou de cura.

O som do tambor facilita a conexão de qualquer pessoa com o seu mundo interior e com todos os ritmos de seu corpo, produzindo um estado de relaxamento, de equilíbrio e ampliação de consciência, proporcionando assim uma conexão e harmonização com os ritmos planetários e cósmicos.

Para os que praticam os Rituais Xamânicos – religião oriunda de povos asiáticos e árticos, pratica filosófica e de cura encontrada no mundo todo – , as batidas do tambor são como as batidas do coração da Mãe Terra.

O tambor representa a própria cultura xamânica, unificando – a e aproximando as comunidades. Costuma ser utilizado em diferentes ocasiões, como casamentos e funerais, e em todas as reuniões dos povos nativos, criando uma aura energética que possibilita a conexão com o Mundo Espiritual. Também são utilizados por curandeiros, em rituais de cura.


OS ATABAQUES


Poucos sabem que a expressão "atabaque" não é de origem africana. É uma expressão árabe "at-tabaq". Constitui-se de um tambor cilíndrico ou ligeiramente cônico, com uma das bocas coberta de couro de boi, veado ou bode.

Na África,  o nome desse instrumento dependia da nação em que era tocado. Por exemplo, na nação Ketu os atabaques eram conhecidos como Ilú. Na nação Bantu (Angola) eram chamados de Ngoma. Na nação Jeje os tabores eram divididos pelo tamanho e classificados em Rum (o maior) Rumpi (o médio) e Le (o menor).   


 
                                              NGOMA
Como mencionado acima, na nação Bantu (Angola) os tambores são chamados de Ngoma. São instrumentos sagrados, tocados com a mão único e exclusivamente pelos  Xicarangoma (homens responsáveis pelo toque de Ngoma).

Seu toque e cânticos na língua bantu servem para invocação dos Nkises (divindades Bantu semelhantes aos Orixás) e dos Ancestrais.  


Já na nação Ketu, os tambores, como visto, eram chamados de Ilú. Possuem a mesma função sagrada de chamar as divindades para a sessão. No caso de Ketu as dividades são chamadas de Orixás. Na nação Ketu os atabaques possuem tamanhos diferenciados e são tocados único e exclusivamente pelos Alagbê (homens responsáveis pelo toque do atabaque).  Seus rítimos são executados com varetas chamadas de Aguidavis, dando uma sonoridade diferente das demais nações do candomblé. Atualmente a expressão Ilú é pouco utilizada, sendo adotado a classificação Rum, Rumpi e Le da nação Jeje.


  Le               Rumpi   e            Rum
Na nação Jeje (Djeje) os atabaques receberam o nome de Le, Rumpi e Rum. Tal denominação  passou a ser adotada pelas outras nações. Também é tido como um instrumento sagrado, tocado apenas pelo Runtó (homem responsável pelo toque). Seu toque é feito com as mãos. É cadenciado e lento e serve para invocação dos Voduns (divindades Jeje semelhante aos Orixás).

Cada nação possui seus toques, seus cânticos e suas danças. A forma com que é tocado e cantado possui um fundamento que deve ser respeitado. Ademais, entre essas nações existe algo em comum. O toque do atabaque serve de invocação das divindades para que se manifestam no iniciado. No candomblé, independentemente da nação, o cântico revela uma passagem de sua mitologia, na qual o iniciado manifestado pela divindade irá executar os movimentos durante a roda.   

OS ATABAQUES NA UMBANDA


Como sabemos, a Umbanda é uma Religião Brasileira, nascida em 15 de novembro de 1908, através da anunciação feita pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, através do médium Zélio Fernandino de Morais. 

Nesse período, a Umbanda não possuía atabaques. Isso pode ser explicado por dois motivos. 

O primeiro é um motivo histórico. Em 1908 a abolição da escravatura ainda era muito recente. Existia naquele tempo um preconceito muito maior acerca dos elementos africanos. Para se ter idéia, o simples toque do atabaque poderia motivar a prisão de uma pessoa. Por isso era razoável que a nova religião que ali se iniciava não fosse exposta à esse risco.

O segundo motivo era de ordem espiritual. O toque do atabaque poderia levar alguns médiuns ao animismo. O animismo é a manifestação do espírito do próprio médium, inconscientemente. Ou seja, o médium acredita que está sendo "controlado" por uma entidade, quando na verdade está sendo manifestado por ações de seu próprio espírito.  Tal manifestação não ajuda em nada o desenvolvimento mediúnico. Por essa razão, no início da Umbanda não existia toques de atabaques, mas sim, cantos e batidas de palmas.

Com o passar do tempo, aos poucos, o atabaque foi sendo inserido na liturgia da Umbanda, mas com uma função diversa da do Candomblé. Como visto, nas nações, o toque do atabaque serviam para trazer os Orixás e para fazê-los dançar na roda. Na Umbanda, o toque do atabaque serve unica e exclusivamente para acompanhar os pontos cantados, que nada mais são do que uma oração cantada.

O objetivo do toque da Umbanda não é fazer os Orixás ou as entidades dançarem, mas sim, criar uma "psicoesfera" propícia para chegada dos irmãos de Aruanda, que vêm em auxílio dos necessitados. O toque do atabaque na Umbanda ajuda o médium a se concentrar, a se desligar das coisas do dia-a-dia, fazendo que entregue-se completamente a manifestação espiritual. 

Todavia, o toque do atabaque deve ser feito com respeito, com amor e com responsabilidade. Tudo para evitar o animismo e a influencia dos espíritos pertubadores (Kiumbas). Na Umbanda  os responsáveis pelo toque do atabaque e pelos cânticos são chamados de Ogans, Curimbeiros ou Atabaqueiros. 

T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita