sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

MÉDIUNS ILÚSTRES



O Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita, no objetivo de contribuir para a história da Umbanda, realizou pesquisas acerca da vida e história de médiuns que realizaram grandes feitos para a Religião de Umbanda. Considerando que a Umbanda é ainda uma religião muito nova, fundada em 1908, é essencial que suas histórias, em especial, as das pessoas que dedicaram suas vidas em prol da caridade e da religião, sejam registradas, divulgadas e conhecidas por todos os seus adeptos.

Esperamos que cada história aqui contada contribua para o conhecimento dos irmãos de fé e sirvam de inspiração para o trabalho e propagação desta maravilhosa religião!


Axé!

CACILDA DE ASSIS


"UMA VIDA DEDICADA AO SEU 7 ENCRUZILHADAS REI DA LIRA"

"É trabalhando que se vence a guerra, é trabalhando que se conga, então vamos trabalhar sempre no caminho do bem!!"


BENJAMIN FIGUEIREDO

"UMBANDA É COISA SÉRIA, PARA GENTE SÉRIA"(CABOCLO MIRIM)



RUBENS SARACENI

"O PRECURSOR DA UMBANDA SAGRADA"



LEAL DE SOUZA

"O PRIMEIRO ESCRITOR DA UMBANDA"

sábado, 21 de janeiro de 2017

MÉDIUNS ILÚSTRES: LEAL DE SOUZA


O Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita, no objetivo de contribuir para a história da Umbanda, realizou pesquisas acerca da vida e história de médiuns que realizaram grandes feitos para a Religião de Umbanda. Considerando que a Umbanda é ainda uma religião muito nova, fundada em 1908, é essencial que suas histórias, em especial, as das pessoas que dedicaram suas vidas em prol da caridade e da religião, sejam registradas, divulgadas e conhecidas por todos os seus adeptos.

Esperamos que cada história aqui contada contribua para o conhecimento dos irmãos de fé e sirvam de inspiração para o trabalho e propagação desta maravilhosa religião!
Axé!

LEAL DE SOUZA

"O primeiro escritor da Umbanda"


Antônio Eliezer Leal de Souza nasceu no dia 24/12/1880 (algumas fontes apontam a data de 24/09/1880), em Livramento (antiga Santana do Livramento), no Rio Grande do Sul. Aos 11 anos de idade fez seu primeiro poema. Ainda jovem foi oficial do exército chegando a participar da Guerra de Canudos. Cansado de sofrer prisões por combater o governo de Borges de Medeiros, Leal de Souza desligou-se do exército e dedicou-se então ao jornalismo. Iniciou seus trabalhos como redator de A Federação de Porto Alegre.

 Em 1900 foi para o Rio de Janeiro onde cursou Direito sem concluí-lo.  Nessa mesma cidade, destacou-se como secretário e repórter dos periódicos Careta, A Noite, Diário de Notícias e A Nota. Como repórter deu o furo sobre o assassinato de Euclides da Cunha. Leal de Souza frequentava a roda literária formada por Olavo Bilac (o qual apresentou Leal de Souza as principais paginas de jornais da época como poeta), Martins Fontes, Coelho Neto, Luis Murat, Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e outros (Figura 1). Além de poeta, escritor, crítico literário, conferencista e jornalista foi também tabelião.
Figura 1. Reunião da Sociedade dos Homens de Letras, em 1915. Olavo Bilac aparece na foto indicado pelo número 15 e Leal de Souza pelo número 16.

Em 03/10/1918, aos 38 anos, casou-se com Gabriella Ribeiro Leal de Souza, com a qual teve três filhos. Leal de Souza já era escritor consagrado com mais de quatro títulos publicados quando iniciou seus trabalhos no espiritismo.

§ -  O Álbum de Alzira (Porto Alegre, 1899);
§ -  O Almanaque Regional (Santa Maria (RS), 1915-1917);
§  - Bosque Sagrado (Rio de Janeiro, 1917);
§  -  A Mulher na Poesia Brasileira (Rio de Janeiro, 1918)
§ - A Romaria da Saudade (Rio de Janeiro, 1919)
++ Canções Revolucionárias (Rio de Janeiro, 1923)

Mais tarde publicaria:

§  * No Mundo dos Espíritos (Rio de Janeiro, 1925);
§  * O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas da Umbanda (Rio de Janeiro, 1933);
§   *  A Rosa Encarnada – romance espírita (Rio de Janeiro, 1934);
§  * Getúlio Vargas (Rio de Janeiro, 1940);
§ * Transposição dos Umbrais (opúsculo editado pela Federação Espírita Brasileira, editado em 1941, sobre a conferência proferida na mesma federação em 1924, Rio de Janeiro).

Em 1924 surgem os primeiros textos sobre o Kardecismo no jornal A Noite onde relata suas experiências com os espíritos. Em busca de matérias e encontros com o espiritismo prático, Leal de Souza depara-se com trabalhos de Umbanda e acaba chegando a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (Figura 2).
Figura 2. Trabalho no qual Leal de Souza participou na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

Em sua primeira visita a tenda, Leal de Souza desconhecido por todos os presentes e sem ser anunciado, foi reconhecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. O mesmo dirigiu-se até ele e disse: “Pode dizer que apertou a mão de um espírito. Á minha esquerda, está uma irmã que entrou com tuberculose e a minha direita um irmão vindo do hospício. Curou-os, aos dois, Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los” (CUMINO, 2015 p.56). Neste mesmo dia Leal de Souza presenciou a cura de um rapaz considerado louco, realizadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.  

Em 1925 o primeiro livro sobre Umbanda (Figura 3), intitulado "No Mundo dos Espíritos" é lançado. Todos os artigos e crônicas escritas durante o ano de 1923 sobre sessões e manifestações espíritas na cidade do Rio de Janeiro são relatados, bem como sua ligação com Zélio de Morais. Na Figura 4 um registro de um dos trabalhos realizados por Pai Quintino o qual Leal de Souza acompanhou.“Depois de convertido ao espiritismo, o Sr. Leal de Souza fez durante seis anos, com auxilio de cinco médicos, experiências de caráter cientifico sobre essas práticas, e principalmente sobre os trabalhos dos chamados caboclos e pretos” (SOUZA, LEAL DE 1933, pg.6).

Figura 3. Primeiro livro sobre manifestação de espírito publicado por Leal de Souza


Figura 4. Trabalho realizado por Pai Quintino o qual Leal de Souza acompanhava.
Desde então passou a trabalhar para a Umbanda, aceitando a missão de dirigir a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das setes tendas mestras fundadas pelo Caboclo das 7 encruzilhadas. Esta tenda foi fundada em 1918 estando à frente Gabriela Dionysio Soares (entidade chefe: Caboclo Sapoéba), que por problemas pessoais não pôde dar continuidade aos trabalhos. Por isso em 1933 Zélio de Moraes determina a Leal de Souza, que assumisse a direção dos seus trabalhos na Tenda.

“O chefe do terreiro dessa Tenda – presidente espiritual, - é o Caboclo Corta Vento, da linha de Oxalá; seu substituto imediato, e o Caboclo Acahyba, da Linha de Oxóssi, e eventuais Yara, da Linha de Ogum, Timbiry da falange do Oriente, e o Caboclo da Lua da linha de Xangô” (LEAL DE SOUZA, 1933 pg 76).
Figura 5. Livro de Leal de Souza pertencente à Tenda Nossa Senhora da Piedade.(Jornal Nacional de Umbanda, 2011, pg 10).

      Cada tenda fundada tinha um chefe de terreiro (presidente espiritual), substitutos imediatos e vários eventuais, todos designados pelo guia chefe. “A Hierarquia, na ordem material, como na espiritual, é mantida com severidade. Cercam o Caboclo das Sete Encruzilhadas muitos espíritos elevados que ele distribui, conforme a circunstância, pelas diversas Tendas” (SOUZA LEAL, 1933 pg.70).

Na tenda Nossa Senhora da Conceição era realizada as sessões de caridade, desenvolvimento mediúnico e de estudo cientifico. Na primeira quinta feira de cada mês era realizada uma sessão com os dirigentes de cada tenda, na tenda matriz, com o caboclo das 7 encruzilhadas – este fazia as observações necessárias e passava as instruções para a realização dos próximos trabalhos.

Na segunda sexta-feira de cada mês todos os médiuns de cada tenda trabalhavam na tenda matriz, Nossa Senhora da Piedade; No terceiro sábado se reuniam na Tenda Nossa Senhora da Conceição e no quarto na Tenda Nossa Senhora da Guia. Anualmente faziam um retiro de vinte e um dias, realizavam ainda cerimônias diárias na tenda e na casa de seus médiuns.

“E pelo dever de assumir a responsabilidade social de minha investidura, acrescento que sou o presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição, ou, mais modestamente, o delegado humano incumbido, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, de coordenar a ordem material necessária à execução dos trabalhos espirituais”. (SOUZA, LEAL DE 1933 pg.76).

Em 1933 sua segunda obra, "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda" é lançado (Figura 6). É a primeira obra a detalhar aspectos fundamentais da Umbanda, a exemplo das sete linhas brancas e os orixás. É escrito com tanta clareza, indo direto as questões essenciais da religião, que ainda nos dias de hoje é muito atual e de leitura fundamental a todos os umbandistas. Na época era uma heresia falar sobre o assunto, pois tudo a respeito era considerado “macumba”.  

Como a maioria dos fundadores e líderes  que tiveram a missão de trazer algo novo da espiritualidade para a matéria, Zélio de Moraes não produziu obra literária, mas preparou mediunicamente alguns dos escritores da Umbanda como Leal de Souza (Dirigente da Tenda Espírita Nsª. Sra. Da Conceição), Capitão Pessoa (Dirigente da Tenda Espírita São Jerônimo) e João Severino Ramos (Dirigente da Tenda Espírita São Jorge), destacando-se o primeiro - onde a iniciativa valeu-lhe então o mérito de “Pioneiro” da literatura umbandista.
Figura 6. Segundo  livro publicado por Leal de Souza sobre Umbanda.


Leal de Souza ousou escrever sobre Umbanda em um jornal de grande divulgação do Rio de Janeiro em 1932 (Figura 7), em plena repressão da Ditadura Vargas. Foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica feroz, ostensiva e pública, em defesa da Umbanda. Leal de Souza viveu em uma época atribulada da política brasileira e, como jornalista, envolveu-se em confrontos com muitos políticos e personalidades. Talvez por isso as suas memórias fossem relegadas a um plano inferior na história dos escritores brasileiros. Isto dificulta a pesquisa sobre a sua vida.



Figura 7. Jornal de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro onde Leal de Souza publicava sobre Umbanda.


Conviveu durante vinte e três anos, com Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em suas falas sempre afirmava: “Não esqueçamos que o labor desses espíritos tem duas finalidades: atrair a criatura e ensina-la a amar e a servir o próximo. Com sua manifestação, pelo corpo dos médiuns, provam a imortalidade da alma e os benefícios que fazem, servem para elevar o beneficiário, pela meditação ao culto e ao amor ao Deus e, portanto, a prática de suas leis”. (MATTA E SILVA, 1987).

Leal de Souza faleceu no dia 01 de novembro de 1948 aos 68 anos de idade, no Rio de Janeiro em sua residência. Um poema seu o Morte e Encarnação foi psicografado por Chico Xavier e publicado no livro Antologia dos Imortais, obra mediúnica, de 1963, que trata da imortalidade da alma.

Morrer!... Morrer!... A gente crê que esquece,
Pensa que é santo em paz humilde e boa,
Quando a morte, por fim, desagrilhoa
O coração cansado posto em prece.
Mas, aí de nós!... A luta reaparece...
A verdade é rugido de leoa...
A floração de orgulho cai à toa,
Por joio amargo na Divina Messe.
No castelo acordado da memória
Ruge o passado que nos dilacera,
Quando a lembrança é fel em dor suprema...
Sempre distante o céu envolto em glória,
Porquanto em nós ressurge a besta fera
Buscando, em novo corpo, nova algema.

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 Atividade do Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita.
Pesquisa realizada pela médium Flávia dos Santos Etgeton e apresentada na Tenda na sessão do dia 26.11.2016

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REFERENCIAS

CULMINO, Alexandre. Umbanda não é Macumba. 2 edição, 2015. Editora Madras.
MATTA E SILVA. Umbanda e o Poder da Mediunidade. 3 edição, 1987. Editora Freitas Bastos.

T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita