terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

AS GUIAS NA UMBANDA

Um dos elementos incorporados pela tradição africana na Umbanda são as guias/miçangas. Guias é o nome dos colares coloridos que possuem uma representação litúrgica e que virou também uma forma de identificação dos adeptos das religiões afro-brasileiras.

Neste texto, abordaremos a importância, simbolismo e uso das guias dentro da Umbanda, conforme doutrina da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita.



Muito mais que meros adornos, as guias dentro da Umbanda possuem uma função de importante relevância para o médium umbandista. Nela, está imantada o axé, a energia do Orixá ou da entidade que a cruzou e pediu aquela guia. Ao colocá-la, o médium está se cercando com essas energias, protegendo sua matéria das ações maléficas e propiciando a atuação dentro do trabalho mediúnico.

Esse é o primeiro ponto a ser esclarecido. A guia deve ser feita ou adquirida, apenas quando existe uma solicitação da entidade chefe da casa. A guia não é enfeite e não serve para atender o ego do médium que acredita que, quanto mais guias possuir, mais forte ou preparado estará. Não se faz guia porque viu em algum lugar e achou bonita ou porque cansou das guias antigas.

No caso da Tenda, todos os médiuns ao entrarem utilizam a guia branca, guia cruzada para o Anjo da Guarda da pessoa. É uma guia de proteção que, imantada, impede a atuação de energias e espíritos negativos junto ao médium. 

A segunda guia é a verde, cruzada para Oxossi no primeiro Amaci realizado na casa, geralmente no mês de janeiro. A terceira guia é a de Ogum, nas cores vermelho e branca, cruzadas em abril, quando do cruzamento feito pelos falangeiros desse Orixá. No mês de outubro, os médiuns que passam pelo cruzamento de Xangô na cachoeira, recebem sua guia marrom. E em dezembro, é realizado o cruzamento de Iemanjá, onde se recebe a guia azul clara. 

Essas são as guias que todo o médium que possui um ano de casa terá em seu pescoço, representando, cada uma delas, os cruzamentos realizados, os quais são renovados a cada ano, reenergizando as guias, renovando o axé. Todas essas guias são simples, de um fio.

Com o passar do tempo, em sendo confirmado os pais de cabeça do médium, este passa utilizar as guias desses Orixás (cada Orixá possui uma cor específica que é representada na guia). O mesmo ocorre quando entidades vão se identificando, firmando seus pontos. Antes disso, o médium deve ter apenas as miçangas inerentes aos cruzamentos que já passou na casa, salvo, como dito acima, se expressamente solicitado pelo guia chefe da casa.

Outras guias marcam os cruzamentos de graduação do médium, como por exemplo a guia de 7 fios, usada por aqueles que já possuem cruzamento de pai/mãe pequeno(a) ou de santo ou Ogan.

Assim, todas as guias utilizadas pelos filhos de fé tem um significado, um simbolismo que remete aos cruzamentos e obrigações já realizadas, sendo que cada guia, ao ser reenergizada nos pontos da natureza a cada ano, contém em si a imantação da energia do Orixá e dos amacis realizados. 

Essas são as guias de uso litúrgico, são utilizadas apenas durante as sessões. Quando se está com elas, não se utiliza do fumo nem do álcool, não se conversa assuntos fora do contexto umbandista, pois é como se o Orixá ou a entidade, já estivesse ali ao seu lado. Portanto, muito respeito e seriedade deve se ter ao colocar as guias.

Além das guias de uso litúrgico, é comum as guias de proteção que podem ser utilizadas no dia-a-dia pelo médium. Geralmente a guia branca, mas também pode ser uma guia de aço ou na cor de um Orixá em específico. Como o nome diz, essa guia serve para proteção do médium nos atos da vida cotidiana, podendo a mesma ser usada em qualquer lugar, o que, como visto, não ocorre com as guias de uso litúrgico.

Por serem condutoras de energia, as guias sempre devem ser feitas com miçangas de porcelana ou cristal. Nunca de plástico. 

Ao ser pedido uma guia, a mesma deve, de preferência, ser feita pelo próprio médium e levada ao terreiro para ser cruzada pela entidade Chefe. Uma guia comprada, sem o devido cruzamento é apenas um colar de enfeite, o qual não possui nenhuma ação espiritual.

Algumas guias podem trazer elementos como flechas, machados, espadas, cruz, estrela, etc., a depender do que foi solicitado pela entidade. 

Existem também, guias comemorativas, que são entregues, por exemplo, em uma formatura como presente ou lembrança. Porém, essas guias não possuem a mesma relevância das guias litúrgicas, sendo seu uso facultativo.

Desse modo, tem-se que o uso de guias possui uma função específica que deve ser compreendida e respeitada pelos médiuns. É normal os iniciantes quererem usar guias de todas as linhas, das entidades que sentem afinidade, mas não é o correto. Dentro da liturgia da casa, como amplamente visto acima, o uso das guias decorre dos cruzamentos realizados e da graduação. Caso contrário, as guias seriam mero artigo folclórico, sem qualquer importância.

A guia é a materialização do axé do Orixá e da entidade. Devemos zelar dela com todo amor e usar com respeito e responsabilidade! 

Axé irmãos!

T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita