sábado, 30 de janeiro de 2010

Expulsar demônios ou cometer crimes perante a espiritualidade?



O ato de “expulsar demônios” , como gostam de chamar os “pastores”,  está cada vez mais na moda! Expulsam-no nos templos, pela televisão e até mesmo por celulares e rádios! Na verdade, o que se verifica é que "expulsar demônios"  se tornou um meio de chamar atenção, de mostrar que o líder é forte e desafia o “demônio”!

Mas, em que pese os devaneios cometidos, tal questão merece uma análise mais aprofundada.

Primeiro, como ponto de partida, devemos saber o que são demônios e, se eles realmente existem.

Allan Kardec em sua obra “O céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo” trouxe importantes elucidações acerca do tema. De forma completamente coerente e raciocinada, o codificador expõe que, se cremos na existência de um Deus infinitamente bom, justo e soberano, não podemos aceitar a ideia de que o mesmo também tenha criado entidades voltadas ao mal, destinadas a perturbar a existência dos homens.

Ainda que alguns digam que não foi Deus quem os assim criou, mas sim eles optaram pelo mal, de qualquer forma estamos tirando o atributo de onisciência de Deus, pois, como conhecedor do futuro de cada criatura, o mesmo teria aceitado compassivamente o futuro de seres - moradores eternos do inferno - que iriam tentar - a todo custo - destruir a paz da humanidade. É obvio que tal explicação não se sustenta.

Mas se Deus não criou os ditos "demônios" ou muito menos consentiu com sua existência, quem afinal são esses "seres".

Na verdade, após o estudo da obra acima citada, é possível perceber que demônios na forma com que se apresentam segundo alguns "cristãos", de rabo, chifre e cor vermelha, só existem na imaginação. Tais seres são tão folclóricos quanto os elefantes voadores!

Muitos irão dizer, mas na bíblia está escrito.... Ora, a bíblia tal conhecemos é oriunda de inúmeras traduções e interpretações de uma língua extinta. Sendo assim, nem tudo que lá está escrito deve ser interpretado literalmente.

A expressão "demônio" tem origem em "daemon" do grego, que nada mais significa do que "gênio mal". Gênio mal, pode ser interpretado como má-índole, mau caráter, etc. Ou seja, está ligado mais propriamente a um valor, personalidade do que um "ser" especificamente.  Dessa forma, a interpretação correta para "demônio" seria má-índole ou  má-inclinação.

Interpretando dessa forma, a bíblia se torna mais racional, visto que a crença em um Deus soberano e supremo em todos os atributos, não seria desafiado ou maculado pela existência de um ser, chamado de "inimigo".

Na forma literal, não existe explicação racional dentro da bíblia. Sem nenhuma dúvida, ela serviu para um período aonde o ser humano não tinha capacidade de raciocinar e buscar suas próprias respostas. Era o tempo em que o “rebanho” precisava que ser conduzido. Hoje, as "ovelhas" tem a liberdade, desde que usem a razão e rompam com os dogmas impostos, questionando, inclusive, a autoridade do próprio “pastor”.

A figura do “demônio” ou “Satanás” ou como chamem, serviu apenas para amedrontar o povo da época para que seguissem a ordem, assim como a mãe amedronta o filho com a figura do “bicho papão”. Esse exemplo é perfeito. Quando uma criança é malandra, apronta, faz travessuras, a mãe não pensa duas vezes em dizer, “Se fizer isso, o bicho papão pega” ou “Cuidado, o bicho papão gosta de crianças mentirosas”, e por aí vai. Mas na realidade, óbvio,  que não existe nenhum "bicho papão".     

O medo do ”bicho papão” passa no momento em que a criança cresce e entende que não existe nenhum ser mágico que vai pegá-la, mas que, apenas essa figura foi usada para que não cometesse deslizes, que fosse bom e comportado.

A crença em demônios também desaparece quando saímos da infância da espiritualidade, ou seja, quando rompemos as barreiras dogmáticas até então intransponíveis, para chegar à razão.

Comportamento que também é típico nas crianças, em jogar a culpa de seus atos e erros em terceiros, muitos são os que se encontram na infância da evolução espiritual e jogam a culpa de suas faltas nos demônios. “Meu casamento não dá certo porque o demônio está atrapalhando!"  Ora, é tão fácil dizer que é culpa do demônio, ao ter que admitir sua própria culpa em ser um(a) esposo(a) relapso, desatento(a) e infiel! O mesmo se dá quando uma empresa não vai para frente! Dizer que é culpa do demônio e mais fácil do que admitir que não é um bom administrador, que explora os consumidores e empregados, que sonega imposto, que tenta tirar vantagem de tudo!

Dessa maneira, podemos afirmar, com absoluta certeza, que demônios tal como pregam as seitas cristãs não existem! Lúcifer, Satanás, Demônio, Diabo, entre outros nomes, são apenas figuras folclóricas utilizadas pelas seitas para manter seus fiéis “dentro da linha”, fazendo-os que contribuam mais, que arrecadem mais, que comprem "tijolinhos, águas santas, lencinhos ungidos, CDs, DVDs, “redinhas” , óleos", entre outros absurdos.

Mas, se demônios não existem, o que manifesta em uma pessoa durante a obsessão?

Bem, tirando as obsessões causadas pelo animismo, charlatanismo e hipinose (delírio coletivo) quando se está diante de uma verdadeira obsessão, quatro são as hipóteses e tipos de espíritos que se está lidando.

1º - Obsessão por Kiumbas: Os chamados Kiumbas, são espíritos errantes, que estão na maldade por opção, muitas vezes levados por revoltas ou incredulidade na bondade Divina. Geralmente causam obsessão em um ser encarnado quando são evocados para isso por pessoas ignorantes, nos chamados rituais de "magia-negra", oportunidade em que são "pagos" para realizar tarefas inferiores. Os Kiumbas não são "demônios" porque foram criados assim como nós, simples e ignorantes. Todavia, em razão das faltas cometidas e na negação da Justiça Divina, passaram a habitar regiões densas e escuras da espiritualidade e realizar atos contra os demais espíritos que procuram seguir a Lei. Entretanto o Kiumba pode ser regenerado, razão pela qual ao tratar de uma obsessão desse gênero, pede-se também a intervenção Divina para que ilumine esse espírito errante e que ele possa seguir o caminho do bem. Em que pese sua revolta e inconformismo, orar por um irmãos que se encontra na erraticidade não deixa de ser uma demonstração de caridade.

O Kiumba também pode ser atraído pelo próprio obsediado, quando este pratica atos contrários à caridade, ao amor e a humildade. A vida desregrada é um atrativo aos Kiumbas, os quais passam a habitar junto ao obsediado, alimentando ainda mais os desejos por coisas ilícitas. O melhor remédio para evitar Kiumbas é a reforma íntima e a oração. Quando oramos e procuramos ser bons, nosso espírito se eleva, facilitando a defesa contra tais vibrações grosseiras.

2º - Obsessão por sofredores: Os chamados sofredores são espíritos que ainda não aceitaram o desencarne ou mesmo ciente de seu estado, não conseguem encontrar o devido encaminhamento no plano espiritual e por tal razão rogam por auxílio. 

Neste caso, ao realizar a desobsessão, deve-se rogar aos bons espíritos que encaminhem o sofredor, para que lhe amparem nesse novo mundo. Caso ainda falte perdão entre os envolvidos, buscar-se-á mostrar que o ódio e o rancor em nada auxiliam e só o amor constrói. A obrigação de quem conduz a desobsessão é mostrar que apenas o bem vale a pena e que devemos abandonar todo e qualquer sentimento contrário à caridade.

Geralmente, a obsessão nestes casos se dá por amigos e/ou parentes falecidos do obsediado, os quais encontraram nele um canal para pedir auxílio.

3º Obsessão Kármica: Muito parecido com a obsessão ocasionada por sofredores, a obsessão Kármica se dá em razão de pendências contraídas em outras existências. Por questões mal resolvidas que geraram profundos sentimentos de ódio e/ou amor com o obsediado, o espírito desencarnado pode passar a obsediar o(a) seu(sua) companheiro(a) encarnado. Mesmo após a reencarnação, essa ligação permanece e sem perceber o obsediado acaba sendo influenciado pelos sentimentos da existência anterior.

 Para esse tipo de obsessão, geralmente a doutrinação ocorre no sentido de perdoar, de esquecer dívidas passadas, de encaminhar o espírito revoltado para as colônias regeneradoras.

4º - Obsessão Missão: Este tipo de obsessão se dá no intuito chamar o obsediado à cumprir a missão que se comprometeu quando na espiritualidade. Em razão do véu do esquecimento, muitos nascem sem qualquer tipo de lembrança ou intuição dos compromissos firmados na espiritualidade antes da reencarnação. Desse modo, comumente, espíritos se manifestam no obsediado - nesse caso, não necessariamente espíritos inferiores - para mostrar que o mesmo possui a mediunidade e assim, despertar o interesse em desenvolvê-la e cumprir a missão. Esse tipo de obsessão é benéfico, pois se trata de um lembrete ao obsediado de que ele possui um "dom" e através dele poderá ajudar muitos outros irmãos, encarnados e desencarnados.

Ao verificar esse tipo de obsessão, o dirigente espiritual falará sobre a mediunidade do obsediado e lhe convidará a fazer parte do grupo de desenvolvimento da casa ou de outro grupo que assim entender melhor. Com o desenvolvimento da mediunidade, todos os males sentidos pelo obsediado no início cessarão.

Como se pode observar nas singelas considerações acima, o ato de realizar uma desobsessão é de extrema seriedade. É um momento de muita fé, oração e concentração. Não é somente aquele que está sendo obsediado que precisa de ajuda, mas também aquele espírito que ali está por algum motivo.

Imaginem o abalo que um espírito, desencarnado, muitas vezes membro da família, que não conseguiu ainda seu devido encaminhamento e por tal razão, busca ajuda “encostando-se”  em um parente médium que é adepto de uma determinada seita cristã. Esse espírito será expulso chamado de demônio, de coisa maldita, servo das trevas, entre outros nomes ridículos. Não há dúvidas que esses atos de ignorância e ódio apenas irão perturbar ainda mais o espírito sofredor, fazendo-o acreditar que é um demônio! Como dito alhures, até mesmos os espíritos negativos, tais como os Kiumbas, também necessitam de oração, visto que segundo as Leis do Deus de infinito amor e justiça, os mesmos poderão ser regenerados e seguir o caminho da Luz!

Agir com ignorância e ódio, gritando, amaldiçoando,  em nada ajudará o obsediado e muito menos o obsessor! Na realidade trata-se de um crime, pois irão perturbar de maneira grave o psicológico do espírito que ali está em busca de auxílio. Isso, sem contar que tais atitudes podem desencadear sentimentos de ódio e de vingança, que, se não tratados, irão influenciar por diversas existências a vida de todos os membros da família.

Por isso meus irmãos, o ato de estar obsediado não deve ser encarado como uma praga ou maldição. Deve ser encarada como uma oportunidade de auxílio, tanto para o médium que terá que desenvolver sua mediunidade e policiar seus atos e pensamentos, como para o espírito que ali está, e receberá a oportunidade de encontrar paz e luz.  Comete sérios crimes perante a espiritualidade e certamente irá responder por todos eles quando no mundo espiritual estiver, àquele que, de qualquer forma, “expulsa” um espírito, julgando-o de demônio, de coisa ruim, de inimigo.

Por isso fiquem atentos! Apenas o amor e a caridade nos levarão a verdadeira evolução! Qualquer outro lugar que pregue o ódio, mesmo contra os espíritos, está cometendo um grave crime, e todos que lá participam irão responder severamente por seus atos!

T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita