O Blog da T.U. Filhos da Vovó Rita, com o objetivo de levar o conhecimento e a informação aos seus leitores, teve a honra de entrevistar o irmão Sandro da Costa Mattos. Importante militante do movimento Umbandista, autor do livro "Livro Básico dos Ogãs" , chefe da curimba da APEU/SP e proprietário da Rádio Raízes de Umbanda .
Nesta entrevista, Sandro nos conta como iniciou na Umbanda; como é a doutrina seguida por sua casa e dá sua opinião acerca dos temas polêmicos que envolvem nossa fé.
Os leitores poderão, caso queiram, fazer perguntar ao nosso entrevistado, por meio da opção "comentários" ao final do texto.
Espero que gostem!
Jefferson LG
Idade: 38 ANOS
Instituição: APEU –
ASSOCIAÇÃO DE PESQUISAS ESPIRITUAIS UBATUBA
Cargo/Função na
Instituição: OGÃ ALABÊ
1)
Como e quando você ingressou na
Umbanda?
R: Antes de iniciar, quero agradecer a
oportunidade colocada pelo meu irmão Jefferson e todos os irmãos da T.U. Filhos
da Vovó Rita.
Na verdade eu nasci em berço
umbandista. Meus pais estão na Umbanda há mais de 50 anos. São os dirigentes da
APEU. Posso falar inclusive que só sobrevivi ao nascer, graças à Umbanda. Meus
pais não conseguiam ter filhos, ou melhor, minha mãe até engravidava, mas as
crianças nasceram prematuras e sucumbiram com horas de vida. Foram 03 irmãos
meus que morreram antes de eu nascer. Certo dia meu pai incorporou uma entidade
de Xangô, o Pai Sete Quedas da Cachoeira, que falou que iria ajudá-los. Depois
de suas orientações, minha mãe descobriu qual era seu problema e apesar de eu
ter nascido nas mesmas condições dos outros, consegui sobreviver, assim como o
Preto Velho avisara. Depois meus pais ainda tiveram mais um filho, meu irmão
mais novo, o Sidney.
Já como integrante da engira, eu fui
cruzado na Lei de Pemba como Ogã quando tinha 10 anos de idade. Aos 6 anos eu
comecei a dar meus primeiros toques, sem nunca ter estudado pra isso. Foi tudo
muito natural. Eu ouvia os discos que meu pai tinha e também os Ogãs que
tocavam na casa e fui aprendendo cada toque de forma espontânea. Fui cruzado
junto com meu atabaque, que foi consagrado a Oxóssi.
2)
Qual a sua função dentro do Terreiro?
R: Iniciei na engira como
Ogã de Couro, o chamado Ogã Berê (iniciante). Mas como sempre fui muito ligado
à religião, demonstrando muita responsabilidade, acima até do que minha idade
sugeria, fui me desenvolvendo e atingindo outros degraus. Hoje sou Ogã Alabê, o
responsável por toda curimba da casa, função esta que ocupo já há duas décadas
aproximadamente.
3)
Fale-nos da doutrina seguida pelo seu
Terreiro;
R: A APEU foi fundada em 17
de janeiro de 1981. Meu pai ficou sabendo que tinha esta missão quando ainda
tinha 15 anos de idade. Estudou muito, fez muitas pesquisas e procurou
desenvolver sua mediunidade, de forma ininterrupta, e só depois de 19 anos de
prática mediúnica, adquirindo conhecimentos dentro e fora da sua casa, ele fundou
a instituição APEU. Claro que pra isso, ele seguiu todas as diretrizes da casa
que seguia, chegando a ser consagrado sacerdote na Tenda de Umbanda Pai
Domingos, comandada pelo saudoso Pai Antônio Valentim.
Quando a APEU foi
fundada, os trabalhos eram realizados na cozinha da nossa casa. Isso durou
cerca de um ano e o ritual era mais parecido com o da maioria das tendas
umbandistas, especialmente no que diz respeito ao uso do fumo e da bebida.
Em 1982 a sede fui
finalmente fundada, e desde então, por ordem do Caboclo Ubatuba, foi abolido
totalmente o uso do fumo pelas entidades manifestadas, bem como a ingestão de
bebidas alcoólicas. Também passamos a adotar o uso de alguns hinos, tocados ao
som do violão em nossa abertura de cada trabalho. Esses hinos foram todos
enviados mediunicamente e o mentor pediu para que os mesmos fossem incorporados
nas engiras.
Destacamos também que
não realizamos sacrifícios de animais e todo atendimento na APEU é gratuito.
Não realizamos qualquer
trabalho de magia negra, como amarrações amorosas e outras coisas que,
infelizmente, muitos procuram num terreiro.
No que diz respeito à
nossa linhagem, o que estaria mais perto da nossa forma de trabalhar é a da
chamada Umbanda Branca, que é por essência, Cristã, evolutiva e doutrinária.
Para que uma pessoa
possa adentrar à nossa engira como seu integrante, precisa frequentar a casa na
assistência por um tempo. Depois pede permissão ao Caboclo Ubatuba que vai
passar alguns banhos de preparo para a mesma. O médium só passa a ser um filho
da casa depois de passar pelo ritual de Cruzamento na Lei de Pemba, onde seus
chacras serão ativados e sua coroa ligada diretamente ao fundamento do Caboclo
Ubatuba.
4) Quais as sete linhas
cultuadas em sua casa e qual a entidade chefe?
R: Como disse anteriormente,
nosso mentor é o Caboclo Ubatuba, um falangeiro de Seu Sete Flechas, que atua
na vibratória de Oxalá. Ele não é bem um índio puro, pois na verdade é um
cafuzo. Seu pai era um grande mestre africano e sua mãe, uma índia brasileira.
Foi auxiliar do pajé da sua tribo e catequizado. Isso mostra o porquê da sua
ligação direta com o cristianismo.
Para falar sobre as
linhas da casa, vou citar como são nossas engiras mensais, pois aí já deixo aos
irmãos, nosso calendário fixo (este só é alterado quando realizamos as
homenagens tradicionais da APEU ou quando o mentor altera por motivos
excepcionais):
1ª Sessão do mês –
Caboclos de Oxóssi e Pretos Velhos
2ª Sessão do mês –
Falangeiros de Ogum e Povo D’água (Iemanjá, Oxum, Iansã, Nanã e o Povo
Marinheiro)
3ª Sessão do mês –
Caboclos de Oxóssi e falangeiros de Xangô
4ª Sessão do mês –
Caboclos de Oxóssi, Povo Baiano e Exus de Lei.
Quando o mês tem 05
semanas, a quarta semana passa a ser de Caboclos de Oxóssi e Povo Boiadeiro, ou
então, chama-se as crianças, da Linha da Ibejada.
Temos também, de forma
mais rara, a manifestação da Linha do Oriente e quando necessário, Seu Ubatuba
marca trabalhos especiais de linhagem kardecista, a chamada Mesa Branca, para
doutrinação de espíritos necessitados ou cirurgias espirituais com os médicos
do espaço.
4)
O seu Terreiro promove programas
assistenciais, quais?
R: Temos um trabalho
chamado Projeto Aruanda, onde chegamos a distribuir 250 marmitéx numa única
noite para moradores de rua. Este trabalho está adormecido, pois os coordenadores
estão com algumas dificuldades para estar à frente, no comando do mesmo.
Acredito que muito breve este trabalho voltará com a força e intensidade que
vinha acontecendo, pois o número de pessoas necessitadas é muito grande. Neste
momento, tudo que recebemos em doação está sendo destinado a famílias carentes
ou outras instituições que realizam ações assistenciais.
Além disso, entendo que
os cursos na casa possam ser classificados como um trabalho assistencial, pois
são totalmente gratuitos e abertos a qualquer pessoa que queira participar,
sendo ou não filho da casa, aliás, sendo ou não, umbandista, pois já tivemos
até um padre estudando conosco. Temos o Curso de Iniciação e Aperfeiçoamento
Mediúnico, que na verdade é um curso teórico, onde o aluno entenderá como
funciona a mediunidade e seus diversos fenômenos; o Curso Básico de Umbanda,
dado em dois níveis e que só está aberto para quem já fez o curso sobre
mediunidade; o Curso de Cânticos de Umbanda, onde ensinamos as cantigas
utilizadas num terreiro e suas finalidades. Além destes cursos, não posso
esquecer de falar sobre o Grupo Crianças de Aruanda, que é nossa turma de
Evangelização Infantil na Umbanda, onde direcionamos as crianças de 3 a 11 anos
de idade para um conhecimento religioso, ético, moral e de total respeito ao
sagrado e às criações divinas.
6) Como se dá a formação
de um Ogan em sua casa?
R: Na nossa casa os Ogãs
são formados na própria instituição. Na verdade, todos foram previamente
informados desta missão e preparados para este fim, ou seja, são Ogãs com dom
natural. Não temos nenhum Ogã que estudou e praticou numa escola. Vejo que o
Ogã é um médium que atua através da vibração dos chacras que atuam na região
dos braços e mãos, portanto, assim como não se fabrica um Médium ou Sacerdote, não
se cria um Ogã em escola. Daí a diferença de um Ogã para um percussionista. Ser
Ogã vai além de saber tocar um instrumento, pois ele vai movimentar energias e
muitas vezes, buscar a energia necessária para a realização dos trabalhos espirituais.
Apesar de não termos uma
estrutura de uma escola, já há alguns anos eu tenho ensinado toques de
atabaques para alguns irmãos, porém, somente se esses, confirmadamente, foram
indicados como Ogãs pela espiritualidade ou pelos seus sacerdotes. Às vezes o
próprio dirigente me procura. Muitos são os que vêm querendo aprender porque
gostam ou acham bonito tocar. Neste caso eu indico uma das diversas escolas que
conheço. Hoje vejo que estas pessoas podem ser úteis, pois ajudam na manutenção
energética, já que podem manter o ritmo da sessão. Além disso, alguns são
verdadeiros Ogãs, que não sabiam que tinham esta missão.
Agora, na nossa casa, só
é preparado aquele que foi confirmado como Ogã. Depois de cruzado, o Ogã passa
a ter uma função de muita responsabilidade, pois é ele quem será o responsável
pela condução energética promovida pelos instrumentos sagrados e consagrados.
Na obra “O Livro Básico
dos Ogãs” eu descrevo dois rituais de iniciação de um Ogã, destacando a
diferença de como isso é feito na Umbanda e no Candomblé.
7) Como se dá a
utilização de elementos como álcool e fumo nos trabalhos de sua casa?
R: Como disse
anteriormente, não adotamos o uso do fumo e a ingestão da bebida alcoólica.
Nosso mentor nos explica que estes elementos são desnecessários, pois podem ser
substituídos por outros não nocivos à saúde física e mental do médium e do
consulente.
Sabemos que a Umbanda
não impõe aos seus adeptos a proibição do uso destes elementos na sua vida
social, porém, é de conhecimento geral que são substâncias nocivas à saúde
humana.
Nossa casa tem uma
enorme guia de rosário, utilizada nos trabalhos de cura promovidos pelo Caboclo
Ubatuba. Os médiuns seguram essa guia, doando energia para a pessoa que está ao
centro. A guia potencializa essa doação. Porém, tem um detalhe: quem fuma não
pode segurar a guia. Sabendo que o tabaco impregna o médium de energias
pesadas, devido aos diversos elementos nocivos que o compõe, o médium tabagista
fica fora desta corrente, pois poderia enviar estas vibrações para uma pessoa
já debilitada. Por conta disso, muitos dos filhos da casa deixaram de fumar.
É importante salientar
que, quando necessário, usamos a bebida alcoólica nos pontos de força, mas
nunca sendo ingerida. Por exemplo: os Exus não bebem e não fumam, mas todos
possuem seus coités com as marafas (aguardentes) que são usadas para
descarrego, trabalhos de cura, vibração de guias, etc, mas nunca são ingeridas.
8) Qual sua opinião
sobre aqueles “terreiros” em que o “Pai/Mãe de Santo” permitem a utilização
irrestrita dos elementos acima citados, no desenvolvimento mediúnico, sob o
pretexto de “aproximar” as entidades?
R: Vou dar minha opinião em
particular. Primeiro quero deixar claro que respeito as diversas formas de se
trabalhar dentro da Umbanda, pois em muitas delas, os objetivos são atingidos,
porém, acredito que estamos num processo de evolução e no futuro, estes
elementos não serão mais utilizados nas engiras de Umbanda, especialmente
naquelas casas que prezam mais pela evolução do espírito do que pela prática
ritualística simplesmente.
Eu não acho que o uso
destes elementos para o desenvolvimento mediúnico é necessário ou
imprescindível. Não acredito que a entidade se aproxima por causa deste
elemento, muito pelo contrário. Dizem que o álcool ajuda porque a pessoa fica
mais “solta”. Se para uma boa incorporação é necessário, acima de tudo, muita
concentração, como isso seria possível se a mente do indivíduo está alterada
pelo uso do álcool?
Notamos que a cada dia
que passa, menor é o grau de inconsciência dos médiuns, coisa que era mais
corriqueira na Umbanda de antigamente. Se o médium é consciente ou
semiconsciente, não poderia ele influenciar nas palavras e atitudes da entidade
incorporada, caso este álcool altere seu estado mental e às vezes, até
emocional?
Desculpe, mas acho que
nada melhor do que responder esta sua questão, mandando uma nova aos meus
irmãos e confrades. Vale a pena refletir.
9) Qual sua visão acerca
dos terreiros que se dizem de Umbanda, porém misturam elementos e fundamentos
de Candomblé em seus ritos?
R: Tenho imenso respeito
pelos cultos de nação africana, porém, temos muitas diferenças quando falamos
dos fundamentos e da base doutrinária de cada religião.
A Umbanda tem
influências marcantes de quatro bases religiosas: o catolicismo, o espiritismo
kardecista, os cultos de nação africana e a cultura indígena. Podemos ainda
incluir aí a influência oriental, cada vez maior na nossa religião.
A Umbanda cresceu de
forma desordenada e muitos foram os dirigentes que buscaram conhecimento nas
religiões africanas. Por isso deu-se essa confusão toda. Hoje temos a chamada
Umbanda Africanista, que tem maior influência dos cultos africanos, mas a
Umbanda Branca e até mesmo a tradicional e esotérica, não praticam rituais que,
originalmente, não fazem parte da nossa doutrina, que é, acima de tudo, cristã.
10) Qual sua opinião
sobre a utilização de roupas luxuosas, decotadas, joias, e outros acessórios
nas sessões de Umbanda?
R: Não concordo. Já escrevi
sobre isso num artigo que pode ser achado com facilidade na internet – “Luxo na
Umbanda – Vaidade dos médiuns ou necessidade espiritual”.
Infelizmente, estamos
num mundo capitalista e o mercado não deixa pra depois, se pode ganhar dinheiro
hoje. Com isso, criaram-se várias opções de roupas, paramentos e acessórios,
puramente ornamentais, que não possuem nenhuma influência espiritual, mas que
servem muito bem para alimentar o ego e a vaidade dos médiuns que se deixam
levar por esse tipo de coisa.
Umbanda é simples. O que
ela precisa é de médiuns verdadeiros e guias verdadeiros. O brilho que os
Orixás querem é o que brota dos nossos corações, não o que vem de uma joia ou
das lantejoulas costuradas nas roupas de luxo.
11) Em seu terreiro, se
trabalha com a Linha de Exu e Pombagira?
R: Trabalhamos com os Exus
de Lei, também chamados de Exus Batizados. Não temos a incorporação de Pombagiras.
Estas só atuam em casos de extrema necessidade. Infelizmente as pessoas buscam
as mesmas somente buscando resolver seus casos amorosos, o que não atendemos em
nossos trabalhos. Por conta disso, nosso mentor, apoiado pelo Exu Guardião do
terreiro, não permite a manifestação livre delas.
Uma coisa que destaco é
que também temos pouquíssimos médiuns que incorporam Exus. Só trabalham como
médiuns incorporantes na esquerda, aqueles que já foram coroados, ou seja,
primeiro eles devem ter seu guia de frente confirmados, num total domínio de
seus chacras energéticos, para depois darem a passagem para o Exu.
12) Qual sua opinião
sobre a necessidade, alegada por alguns, de homens que trabalham com Pombagiras
se vestirem de mulher, usarem maquiagens, joias, sapatos, perucas, etc.,
durante as sessões?
R: Acho isso muito triste.
Sinceramente, esse tipo de imagem denigre a religião. Lutamos para defender a
Umbanda como uma religião séria, que preza a evolução do ser, o respeito, a
moral, a ética, etc. Com certeza é um elemento e tanto para servirmos de chacota
na sociedade, especialmente quando uma imagem dessa cai nas mãos de praticantes
das chamadas seitas eletrônicas que diuturnamente procuram falar mal da nossa
religião, mesmo que nunca tenham pisado num terreiro.
Uma entidade que atua na
coroa de um médium jamais o colocará numa situação desconfortável como essa,
sem a permissão ou muitas vezes, vontade do mesmo.
Se o médium não aceitar
esse tipo de coisa, e a Entidade tiver um mínimo de evolução, entenderá
completamente.
13) Como você vê a
questão ambiental dentro da Umbanda? É possível admitir que uma religião que
depende das forças da Natureza promova poluição em suas oferendas, com vidros,
restos de velas, plástico, etc.?
R: Sou umbandista e também
sou biólogo por formação. É muito triste ver o resultado de algumas festas
realizadas pelo nosso povo. Na hora da festividade, tudo é muito bonito, mas
depois, o que sobra é muita sujeira.
Acho que a Umbanda vem
melhorando neste sentido. Muitas são as instituições que labutam contra certas
práticas que antigamente eram consideradas normais.
Oriento aos dirigentes
para que procurem informações sobre os materiais utilizados e, sempre que
possível, passem a usar elementos naturais, que serão absorvidos pela natureza.
Por exemplo: numa oferenda de agradecimento, ao invés de pano ou alguidar, usar
folhas para fazer suas entregas de frutas e flores.
14) Recentemente, a
Polícia do Rio de Janeiro efetuou a prisão do estelionatário que se passava por
pai de santo “Bruno de Pombagira”, o qual prometia trazer a pessoa amada em 3
horas! Na sua opinião, porque ainda existe exploradores da fé dentro do
movimento Umbandista? É culpa dos dirigentes que não doutrinam devidamente seus
filhos ou do próprio povo que busca tais trabalhos?
R: Existe esse tipo de
gente, porque, infelizmente, temos uma sociedade que, em algumas vezes, gosta
de ser enganada. Na verdade buscam seus interesses a qualquer custo, e isso não
é notado só dentro da Umbanda, mas em todas as vertentes religiosas e
esotéricas. A ideia da felicidade “aqui e agora” faz a pessoa gastar o que não
tem para atingir seus objetivos materiais e emocionais.
Além disso, nosso país ainda tem um índice
muito grande de pessoas sem estudo, sem conhecimento geral, ou seja, somos um
país de pseudo-alfabetizados, o que facilita a ação destes charlatões.
Pra nossa infelicidade,
é triste observar quando isso é feito dentro de um templo que se diz de Umbanda.
Gostaria muito de dizer que isso não acontece, mas não podemos tapar o sol com
a peneira. Quantos são os que usam da religião para angariar lucros? Às vezes
cobram até mesmo dos médiuns da casa!
Muitos caem em suas
garras porque também são pessoas que fazem qualquer tipo de coisa para atingir
seus objetivos. Tem até quem acredite que somente pagando terão resposta sobre
seus pedidos, pois acham que quem não cobra não dá garantia de sucesso.
Normalmente, pedem coisas que uma instituição religiosa séria não atenderia,
como amarração amorosa, prejuízo a terceiros, e outras coisas. Por isso caem
nas mãos destes “médiuns” que, na maioria das vezes, ou são grandes
mistificadores ou interlocutores de espíritos negativos, os quiúmbas e vampiros
do astral, que os utilizam para sorver a energia dos pobres consulentes e do
próprio médium, em troca de alguns favores e realizações, sempre voltados para
o lado material.
Mas não é só isso que
vem acontecendo. De uns tempos pra cá, ficamos sabendo de casas que possuem,
não só uma tabela de preços, como muitas vezes, cobram a entrada para quem vai
ao terreiro, como se o trabalho espiritual fosse um teatro ou outro palco de
distração para os assistentes.
Isso é deprimente,
quando lembramos das palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas: “Umbanda é a
manifestação do espírito para a obra de caridade”.
15) Qual sua opinião
sobre a inclusão de instrumentos de sopro, corda, etc., na curimba de um
terreiro?
R: Não é normal, mas não
posso falar que sou contra. Desde que a utilização traga harmonia dentro do
ritual, não vejo problema.
Pode ser estranho para a
maioria, mas, se buscarmos na história, notaremos que muitas das gravações
antigas tinham o uso do violão. Só não sei bem se o mesmo também era usado
durante os trabalhos espirituais. Mas sei que algumas casas possuíam suas
bandas, que tocavam na gira, o Hino da Umbanda e o hino da instituição, quando
o mesmo existia.
No início desta
entrevista eu informei que nós, na APEU, temos a inserção de hinos na nossa
abertura, todos tocados ao som do violão. A diferença é que não tocamos
atabaques nesta hora, só o instrumento de cordas é usado.
Eu gosto de uma curimba
bem tocada. Os principais instrumentos são os de percussão, como atabaques, ganzá,
agogô, xequerê, etc... Quanto mais instrumentos colocamos, maior é o risco de
um erro, portanto, é importante que, tanto
aqueles que tocam, como os instrumentos, sejam devidamente preparados
para tal.
Existem irmãos que
defendem que o uso do instrumento de percussão é prejudicial ao trabalho
mediúnico e até para o organismo. Diante do que estudo, dos ensinamentos
passados pela espiritualidade maior e da vivência em particular, ainda não tive
nada que me indicasse que tais instrumentos trouxessem qualquer problema, muito
pelo contrário. Já vi coisas maravilhosas acontecerem numa casa, sob a ação dos
atabaques. Usar ou não os instrumentos vai do fundamento de cada mentor.
16) Na sua opinião, o
que falta para a Umbanda ganhar respeito e prestígio na sociedade, assim como
conseguiu o movimento Espírita?
R: Falta estudo e maior
responsabilidade dos seus adeptos. Não podemos esquecer que somos umbandistas
24 horas por dia e não só na hora dos trabalhos no terreiro.
O umbandista precisa
aprender separar o material do espiritual. Quantos não são nossos irmãos que
não fazem nada pelas instituições que os abraçaram? E se fazem, foi porque
foram obrigados?
Falta também uma maior
participação em atividades assistenciais.
Além disso, é
importantíssimo mostrar à sociedade que somos uma religião brasileira, cristã,
que prega o amor e a caridade e não o que muitos pensam, que somos uma religião
tribal, que mata animais na encruzilhada e que faz trabalho de amarração.
Temos sim que destacar
as instituições que servem de exemplo para que as demais abram os olhos.
Enquanto o umbandista levar sua palavra apenas para quem já é da Umbanda, ela
não conseguirá obter o êxito de ser uma religião respeitada por todos.
Felizmente algumas
coisas vêm sendo feitas e aos poucos nossa religião vai ganhando mais espaço.
Basta vermos as leis que recentemente foram aprovadas nos níveis: federal,
estadual e municipal, em várias regiões do país.
No dia que o umbandista
vestir a camisa de verdade, deixar de ter vergonha do que é e passar a ser um
real defensor desta bandeira de paz, amor e caridade, veremos que a quantidade
de adeptos da nossa religião é muito maior do apresentam as pesquisas.
17) Como militante dos
movimentos Umbandistas, quais as dificuldades que você encontra? Em sua
opinião, é difícil mobilizar os Umbandistas?
R: A maior dificuldade
ainda é a de comunicação. Enquanto outras religiões possuem espaço na mídia
aberta, nós estamos resumidos, praticamente, ao uso da internet. Existem
jornais e revistas especializados, mas estes atingem apenas um público local.
Mesmo assim, foram muitos os que surgiram e deixaram de ser editados, pois o
custo é muito alto e, de modo geral, conseguir um apoiador ou anunciante não é
nada fácil.
Hoje, uma nova opção
surgiu, nas chamadas web rádios. Eu mesmo criei uma há mais de dois anos atrás.
A Rádio Raízes de Umbanda, que já foi acessada em mais de 55 países e que há
uma semana atingiu a marca de 200 mil acessos. Isso é bom, porque levamos a
religião para todas as partes do mundo. Mesmo assim, o número de pessoas que
escutam as rádios na internet ainda é pequeno, quando comparamos com as rádios
abertas, liberadas pela Anatel.
Muitos me cobram uma
rádio assim, mas sabemos que isso custa muito dinheiro, muito mesmo. Mesmo que
fôssemos alugar um horário numa rádio, o valor mensal é altíssimo para os
padrões da maioria das instituições e umbandistas do nosso país.
Além disso, temos uma
chaga típica do ser humano chamada vaidade. Nem sempre o umbandista apoia o que
o outro irmão está encabeçando. Isso sem contar que, muitos movimentos possuem
muito mais um teor de crescimento particular de quem o está promovendo, do que
uma preocupação geral com a religião.
Hoje existe uma
preocupação política muito grande na religião. Não sou contra política, muito
pelo contrário. Mas, particularmente, eu não voto numa pessoa só porque ela é
umbandista. Primeiro ela tem que ter caráter e ser honesta. Já temos uma fama
que nos prejudica, por conta de maus médiuns e maus umbandistas. Colocar alguém
no poder que, chegando lá, poderá aprontar ainda mais, só prejudicaria ainda
mais a religião. Por isso é importante conhecermos a vida daqueles que forem
buscar nossos votos.
Na área política, até
que me provem o contrário, já tenho meu candidato, pelo que ele vem fazendo em
prol da nossa religião e da sociedade como um todo. Pra mim o verdadeiro
político tem que ser assim: não deve defender só os interesses de uma bandeira,
mas sim, do povo como um todo.
De modo geral, acho que
o umbandista está aprendendo a lidar com tudo isso e está aos poucos, mostrando
mais a sua cara. Isso é bom!
18) Qual sua perspectiva
para a Umbanda?
R: Creio que a Umbanda teve
um crescimento muito grande nos anos 60 a 80. Depois com o crescimento das
chamadas seitas eletrônicas, ela perdeu muitos integrantes. A partir do ano
2000 a Umbanda voltou a crescer, porém, infelizmente, perdeu muito das suas
raízes.
Hoje notamos alguns
cursos que não possuem qualquer fundamento com a doutrina da Umbanda, enquanto,
por outro lado, o que era praticado por sacerdotes que eram orientados pelos
seus dirigentes, foram morrendo no tempo. Aquele ensinamento passado de mestre
a discípulo está sendo trocado pelos cursos em massa. A questão é: estariam
todos preparados psicologicamente e espiritualmente para receber tais
orientações?
O umbandista de hoje tem
uma vontade maior de aprender as coisas, o que é ótimo, pois só através do
estudo crescemos em conhecimento, porém, muitas vezes, não tem a paciência
necessária para aprender na hora certa, com a pessoa certa, dentro do
fundamento e das tradições que a mesma foi iniciada. Não podemos esquecer que, os
fundamentos de um terreiro são elementos muito particulares, que vibram de
acordo com a necessidade de cada tenda.
Quero deixar claro que
não sou contra os cursos, muito pelo contrário. Só acho que estes deveriam ter
algum tipo de seleção. Existem conteúdos que podem ser passados para qualquer
pessoa, mas outros não, pois deveriam ser destinados somente aos que realmente
possuem conhecimento para tal, ou no mínimo, que possuem funções que os tornem
aptos a utilizar aquilo que lhes foi ensinado.
Temos que nos unir por
coisas que realmente farão da religião um caminho de evolução espiritual. Ainda
estamos muito presos a assuntos voltados ao nosso dia-a-dia, como a luta contra
a intolerância religiosa, o que é necessário diante do que vivemos na
atualidade, mas, sinceramente, espero que um dia isso não seja mais necessário,
para que possamos virar essa chave, buscando unir os templos através da
conscientização da necessidade de levarmos conhecimento espiritual aos seus
adeptos e da prática da caridade em seu real sentido, ou seja, o auxilio ao
próximo de forma livre e desinteressada.
Até dá pra fazer tudo
isso junto, mas somente se os umbandistas realmente se tornarem uma grande
família, com seus adeptos unidos pela defesa da nossa fé, independente do nome
ou fragmento que venham seguir. Umbanda é Umbanda, e apesar das diferenças
existentes entre as instituições, nossa base, ou seja, a raiz vem do mesmo
local: de Aruanda.
19) Deixe uma mensagem
para os leitores do Blog
R: Irmãos! Sejam
umbandistas verdadeiros. Vista esta camisa! Ame sua escolha de fé!
Seja um real
praticante e não alguém que esteja passando um período como umbandista.
Já disse o Caboclo das
Sete Encruzilhadas, seguindo as máximas do Mestre Jesus:
“muitos querem, mas
poucos serão os escolhidos”. Tem um ponto bem antigo, que era cantado por Pai
Antônio, que dizia:
“Todo mundo quer Umbanda, quer, quer,
Mas ninguém sabe o que é Umbanda
(bis)
Umbanda tem fundamento, é, é
Mas ninguém sabe o que é Umbanda”
Umbanda é muito mais do
que colocar uma roupa branca e guias no pescoço. É muito mais que girar, que
cantar e bater palmas. Umbanda é amor, é fé, é caridade desinteressada, é
alívio aos necessitados, é a mão que levanta aquele que está em desespero, e
tudo isso sem distinção de raça, credo e condição social.
Umbanda é religião,
ciência, filosofia e arte.
Que
Oxalá abençoe a todos nós!
Viva
Zambi!
Saravá!
Sandro
da Costa Mattos
Ogã
Alabê e Secretario da APEU
APEU
– Associação de Pesquisas Espirituais Ubatuba
Rua
Romildo Finozzi, 137 – Jardim Catarina – Zona Leste
São
Paulo – SP
Sessões
espirituais às sextas-feiras às 20:30 hs.
Contatos:
scm-bio@bol.com.br
Site
da APEU – www.apeu.rg.com.br
Blog
da APEU – http://apeuumbanda.blogspot.com
Rádio
Raízes de Umbanda – www.raizesdeumbanda.com
Indicamos:
O Livro Básico dos Ogãs – Sandro da Costa Mattos – Icone Editora
Agradeço ao irmão Jefferson pela oportunidade.
ResponderExcluirNós que agradecemos sua participação!
ResponderExcluirAbraço!