sexta-feira, 19 de junho de 2020

AS 7 LINHAS DA UMBANDA TRADICIONAL - 2ª LINHA - A LINHA DAS ÁGUAS /LINHA DE IEMANJÁ

Este é o segundo de diversos textos onde vamos conhecer a fundo as 7 Linhas de Umbanda da perspectiva tradicional, ou seja, a configuração das 7 Linhas pela perspectiva dos velhos Umbandistas e primeiros estudiosos da religião.


Caso você ainda não tenha lido o texto onde abordamos a primeira Linha de Umbanda, a Linha da Fé, você pode ter acesso através desse link aqui: http://filhosdavovorita.blogspot.com/2020/06/as-7-linhas-da-umbanda-tradicional-1.html

Todas as informações trazidas aqui se baseiam nas obras de Leal de Souza, Lourenço Braga, Diamantino Fernandes Trindade, alguns autores Umbandistas contemporâneos e também experiências pessoais.

O propósito desses textos é buscarmos conhecer as raízes da nossa religião, entendendo de onde surgiu cada Linha, quais seus propósitos e especificidades, fazendo uma comparação com o que observamos atualmente nos terreiros.

Esperamos contribuir para o entendimento e esclarecimento dos irmãos de fé! 

A Segunda Linha da Umbanda Tradicional - A Linha de Iemanjá ou Linha das Águas 

Nosso propósito com esse texto é aprofundar o conhecimento sobre os espíritos e falanges que compõem a segunda linha de Umbanda e também suas funções dentro do ritual.

Como explicamos no primeiro texto, as 7(sete) Linhas de Umbanda são uma forma de organização espiritual adotada nos primeiros terreiros de Umbanda a partir de 1908, onde os espíritos foram agrupados em Linhas, Falanges, Legiões e Povos.

Essa estrutura foi baseada nas organizações militares Romanas antigas e foi se construindo e expandindo na medida que novos espíritos foram se aproximando da Umbanda.

Portanto, como uma verdadeira organização de batalha, as 7 Linhas de Umbanda foram estruturadas para que cada falange, legião e povo tenha uma função específica dentro do Ritual de Umbanda e quando agem em conjunto fazem com que o trabalho se desenvolva de forma fluída.

A linha das Águas ou popularmente conhecida, Linha de Iemanjá, não foge a essa regra, sendo um agrupamento espiritual que atua exercendo uma função específica tanto no Ritual de Umbanda quanto na vida dos médiuns e consulentes que participam do ritual como veremos a seguir.

A regência da Linha:

Como já mencionado, toda Linha, Falange, Legião e Povo da Umbanda possui uma regência, ou seja, um Espírito ou Divindade responsável pelo comando e direcionamento daquele grupo de Espíritos.

A Linha das Águas, segundo os Umbandistas mais antigos é regida pela Virgem Maria, a qual, no Brasil, é sincretizada com a Orixá africana Iemanjá.

Alguns terreiros atribuem a regência dessa linha a Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora dos Navegantes mas ao nosso ver faz muito mais sentido atribuir a regência diretamente a Virgem Maria pois todas as santas citadas são manifestações ou aparições direta dessa, sendo no fim a regência atribuída a mesma força.

Também é importante citar, como já foi feito no texto sobre a Linha da Fé, que Iemanjá e a Virgem Maria NÃO SÃO A MESMA ENTIDADE.

Iemanjá em terras africanas era considerada uma Orixá menor. Sua força era atribuída ao Rio Yemojá que posteriormente tornou-se o Rio Ògun (não confundir com Orixá Ogum). 

Dentro da mitologia era considerada filha de Olokum o Orixá dos Mares e das profundezas, mas ao chegar ao Brasil sofreu uma reinterpretação muito grande, tornando-se a Mãe D’agua, Rainha dos Mares e Senhora da Vida.

Hoje é uma das divindades mais populares e cultuadas em solo brasileiro, tendo grandes festividades sendo realizadas em seu nome.

Curiosamente é uma das únicas Orixás a qual é atribuída uma aparição real, onde algumas pessoas no século passado afirmam ter visto uma mulher (primeiramente descrita como uma indígena e posteriormente uma mulher branca de cabelos negros) saindo das águas do mar, com estrelas e flores saindo de suas mãos e cujo o vestido se ligava ao mar.

Dessas descrições surgiu os quadros e imagens que popularmente representam Iemanjá como podemos ver abaixo:


Já a Virgem Maria como todos conhecemos é considerada a mãe de Jesus Cristo, sendo um dos maiores símbolos do sagrados feminino e do amor universal.

Tanto Iemanjá quanto a Virgem Maria enquanto forças espirituais tem atribuições muito semelhantes como o Amor Materno e a representação do Sagrado Feminino, entretanto, não é porque possuem domínio sobre energias semelhantes que devem ser confundidas como a mesma entidade, afinal enquanto divindades possuem mais diferenças do que semelhanças.

É importante saber separar cada coisa em seu lugar, pois tanto Iemanjá quanto a Virgem Maria possuem mistérios únicos, profundos, ricos e muito diferentes uma da outra e quando colocamos ambas na mesma “caixinha” em nome do Sincretismo estamos empobrecendo a ancestralidade dessas duas grandiosas mães.

Quem compõem a linha:

A Linha das Águas é compostas majoritariamente por espíritos humanos e encantados.

Nessa linha ao contrário da Linha da Fé, começaremos a encontrar nossos amados Caboclos e também um dos agrupamentos espirituais mais populares de Umbanda, os Marinheiros.

Os espíritos que compõem essa Linha geralmente tiveram encarnações onde viviam próximos às águas e tinham uma certa vivência e experiência com elas.

São espíritos que conhecem a fundo a força das águas e sabem manipulá-las de forma mágica, podendo alterar, através desse elemento, o magnetismo de ambientes, objetos e o campo energético das pessoas.

Os encantados estão muito presentes nessas Linhas. 

Encantados” é uma denominação que indica espíritos que ao contrário de nós nunca tiveram uma encarnação humana. Eles fazem parte da natureza e geralmente são encontrados em locais onde houve pouca interferência humana, como matas, mares, rios, cachoeiras, montanhas, vulcões, etc.

Esses espíritos segundo Kardec (Livro dos Espíritos, questões 538 a 540) e outros autores, estão no planeta terra muito antes dos espíritos humanos começarem a encarnar e são um dos responsáveis pelos fenômenos da natureza, como chuvas, maremotos, vendavais, furacões, pororocas, etc, podendo gerá-los caso necessário.

Muitos desses espíritos geraram os mitos e histórias que ouvíamos dos nossos avós e fazem parte do nosso imaginário popular como Sereias, Ninfas, Sacis, etc. Todavia, por se tratar de uma transmissão oral, muito conhecimento se perdeu sobre esses seres e também, muitas coisas foram acrescentadas sem fundamento, gerando aí o chamado "folclore". 

Existem muitas espécies de encantados. Alguns deles têm “consciência” e sabem se relacionar com nós humanos e outros são simplesmente forças instintivas da natureza mantendo distância dos humanos e sendo avistados raramente por pessoas com tipos específicos de mediunidade como a vidência, por exemplo.

Dentro da Umbanda esses espíritos são evocados justamente por serem os melhores manipuladores energéticos que existem, podendo gerar alterações espirituais no ambiente e nas pessoas que os espíritos humanos nunca conseguirão. 

Isso se deve ao fato de fazerem parte natureza e terem uma relação muito mais pura com as energias que compõem a nosso planeta.

Geralmente, dentro do Ritual são comandados e evocados por Caboclos, que por sua vivência na mata sempre souberam lidar e conviver em harmonia com esses espíritos que habitam a natureza.

Muitos desses encantados não incorporam, mas se comunicam com os médiuns através de sonhos.

Por fim, diferente das outras Linhas de Umbanda temos a presença de Exus nessa linha, que atuam aqui por motivos específicos na última falange, como explicaremos mais adiante nesse texto.

Função da Linha:



A Linha das Águas como já mencionado anteriormente, exerce funções específicas dentro do Ritual de Umbanda.

Dentre elas, existem duas funções que essa Linha exerce e que são extremamente importantes:

1. Limpam, purificam, harmonizam e descarregam o ambiente onde será realizado o ritual

E…

2. Preparam as emoções dos médiuns para que possam realizar seu trabalho de Umbanda.

Dentro dessa primeira função, podemos observar que todos os espíritos que compõem a Linha das Águas são grandes manipuladores das energias aquáticas e de forma prática são evocados para literalmente “lavar as impurezas” do ambiente onde ocorre a gira, seja antes ou depois da sessão.

Como poderemos observar, na medida em que vamos avançando as falanges teremos entidades que realizam desde limpezas leves no ambiente até descarregos realmente pesados, sendo capazes de atuar em vários momentos diferentes dependendo das necessidades do trabalho.

Vale lembrar que esse trabalho de limpeza é essencial para que o trabalho de Umbanda possa ocorrer, afinal em ambientes compostos por energias densas os Espíritos de padrão energético mais elevado tem dificuldade em baixar e trabalhar.

Já a segunda função que essa linha exerce é EXTREMAMENTE essencial para Umbanda, principalmente hoje em dia:

Eles ajudam os médiuns de Umbanda à construírem a ESTRUTURA EMOCIONAL necessária para desenvolverem sua caminhada dentro da religião.

Mais precisamente, essas entidades atuam no campo emocional dos médiuns promovendo uma limpeza nos padrões emocionais negativos e fazendo com que essas pessoas possam construir a maturidade emocional necessária para cumprir sua missão no terreiro.

Esse trabalho é fundamental, afinal um médium emocionalmente desequilibrado não está apto para tratar nem aconselhar outras pessoas e muito menos está em condições de realizar o processo de incorporação que demanda de concentração e calma.

É por isso que antes mesmo de pensar em incorporação o bom médium deve aprender a cuidar das próprias emoções, tratando seus traumas, suas ansiedades, seus medos, sua reatividade e todos os padrões emocionais que podem atrapalhar sua caminhada.

Infelizmente, não vemos esse processo acontecendo hoje em dia nos terreiros, pelo contrário, vemos médiuns extremamente ansiosos para incorporar o quanto antes, médiuns orgulhosos de serem reativos e médiuns afobados e desconcentrados.

Ao invés desses médiuns buscarem se tornar emocionalmente mais controlados, enchem a boca para se justificar suas falhas usando frases como: 

“Sou briguento pois sou filho de Iansã” ou “Não me ameace, pois quem me protege não dorme!”

Todas essas frases indicam uma imaturidade emocional que não cabe em uma Umbanda que se diz séria e é justamente por isso que a segunda Linha de Umbanda foi concebida, para trabalhar os aspectos emocionais dessas pessoas tornando-as aptas ao trabalho.

Portanto, se você é médium de Umbanda e quer desenvolver um trabalho saudável, busque se conectar as entidades que compõem essa Linha pois eles te guiarão neste caminho de cura emocional.

Se você tem quadros como ansiedade, depressão, síndrome do Pânico, insônia, irritabilidade, pensamento acelerado ou qualquer outra condição emocional que atrapalhe seu dia a dia, busque auxílio nessa linha, pois eles estão apenas esperando sua iniciativa para te ajudar.

Todas as 7 Linhas foram constituídas para formar ótimos médiuns e basta que os médiuns de Umbanda passem a ter interesse em evoluir para que esse propósito se cumpra!

As falanges que compõem a Linha das Águas

Agora que já conhecemos a regência, os tipos de espíritos que compõem a Linha e sua função dentro do Ritual de Umbanda, vamos nos debruçar sobre as falanges que a compõem.

A primeira falange - Falange das Sereias



A primeira falange da Linha das Águas é a Falange das Sereias.

Sua regência é feita pela Orixá Oxum e é composta inteiramente por encantados.
Sereias são espíritos naturais das águas, tanto doces quanto salgadas. Muitos desses encantados geraram lendas que se espalharam por todo mundo, onde foram avistados como seres metade humanos e metade peixe.

Dentro dessa Linha temos as chamadas Sereias Velhas (aquelas que são encontradas próximas ao mar) e Sereias novas que são encontradas nos Rios e são chamadas nas Encantarias de “Iaras.”

São seres que sabem manipular muito bem às águas e também as emoções das pessoas.

Muitos dos mitos relacionados às sereias trazem situações onde esses seres mexiam com as emoções de marinheiros ou pessoas desavisadas e faziam com que viessem ao seu encontro no fundo dos mares ou oceanos.

Essa histórias fazem alusão a capacidade desses seres da manipular as emoções das pessoas, tanto intensificando-as quanto acalmando-as.

Geralmente são evocados no Ritual de Umbanda para fazer limpezas mais superficiais no ambiente de trabalho e também para harmonizar as emoções dos médiuns para o ritual que vai começar.

Raramente essas entidades incorporam, geralmente trabalham no astral durante as saudações a Iemanjá no inicio dos trabalhos, entretanto, em necessidades especiais podem se manifestar.

Geralmente quando manifestadas não se movem pelo terreiro, mantém o médium imóvel durante um certo período de tempo e logo depois vão embora. Importante também esclarecer que, ainda que haja manifestação dessas entidades, as mesmas não vão agir como "um peixe fora d'agua" como vemos em alguns terreiros, com médiuns rolando no chão, se debatendo como se fossem peixes. Manifestações desse gênero são causadas pelo próprio desconhecimento do médium quanto ao processo de incorporação.

A segunda falange - Falange das Ondinas



A segunda Falange, conhecida como Ondinas é comandada por Sant'ana que na Umbanda é sincretizada com Nanã.

Essa falange é composta também por encantados conhecidos nas Encantarias como Ninfas.

Esses seres, ao contrário das sereias, habitam todos os lugares que possuem Água, desde nascentes, cachoeiras, mares, rios, poços, pântanos, etc.

Vale lembrar que cada ”tipo” de água possui propriedades e capacidades específicas, por exemplo, as águas de nascente geralmente são usadas para purificação, às águas do mar para descarregar, às águas dos rios e cachoeira para harmonizar e as águas de poços ou pântanos para decantar.

As Ondinas (ou Ninfas) por estarem espalhadas por toda a natureza têm versatilidade de poder trazer todas essas propriedades para o ritual quando evocadas.

É justamente por conta dessa versatilidade que esses encantados são os que mais se manifestam na Umbanda via incorporação, afinal seu trabalho abrange desde limpeza de ambientes até curas e harmonizações energéticas.

Geralmente esses serem vem girando nos médiuns suavemente, emitindo sons que se assemelham a um canto ou choro e é muito comum os médiuns que manifestam essas entidades chorarem durante a incorporação, como uma forma de limpeza emocional.

As Ondinas geralmente se manifestam quando cantamos para as Iabás, Nanã, Oxum ou Iemanjá, trazendo propriedades específicas a depender da vibração que cada uma trás.

A terceira falange - Falange das Caboclas do Mar



A terceira Falange é conhecida como Falange das Caboclas do Mar e é comandada pela Cabocla Indaiá.

Dessa falange se manifestam Caboclas que em vida habitavam as proximidades das praias e outras localidades aos arredores dos mares. As Caboclas dessa falange têm muita habilidade na lida com encantados e demais entidades da mata, trabalhando lado a lado com eles e podendo sempre contar com seu auxílio.

Quando manifestadas são geralmente muito sutis e quietas e durante suas consultas dão orientações sobre saúde e equilíbrio emocional.

Enquanto as últimas duas falanges focavam seus trabalhos majoritariamente em limpar as energias do ambiente, as Caboclas do Mar focam em limpar as energias dos médiuns.

Trabalham limpando os corpos energéticos dos médiuns e os magnetizam com a energia dos mares, trazendo serenidade e paz emocional para o trabalho que se inicia. 

Segundo algumas literaturas essas Caboclas tendem a trabalhar especialmente com médiuns mulheres ao invés de homens, promovendo nelas sentimentos de independência emocional e segurança.

A quarta falange - Falange das Caboclas dos Rios


A quarta Falange da Linha das Águas é conhecida como Falange das Caboclas dos Rios que são comandadas pela conhecidíssima Cabocla Iara (não confundir com as Encantadas Iaras).

Dessa falange se manifestam almas que vivem agrupadas em torno de nascentes, afluentes, igarapés, cachoeiras, poços, e demais regiões de água doce.

Geralmente trabalham trazendo cura emocional, vitalidade e revitalização através do contato com os pontos da natureza como cachoeiras, rios e matas.

Tendem a estimular nos médiuns sentimentos de segurança, confiança, independência e auto afirmação.

São conhecidas por curarem a “síndrome do médium esponja”, ou seja, curam os aspectos emocionais que fazem alguns médiuns entrarem em alguns lugares e se sentirem sonolentos e “carregados” por absorverem a energia do ambiente.

Essas Caboclas ajudam os médiuns a construírem uma força emocional inabalável ensinando-os a não serem afetados pelas energias do ambiente e curando suas fragilidades espirituais

A quinta falange - Falange dos Marinheiros


A quinta falange da Linha das Águas é a falange dos nossos sempre bem humorados Marinheiros.

Essa Linha é comandada por um encantado conhecido como Tarimã, que na Encantaria Amazonense é associado à uma entidade chamada Negro D’agua.

(Estátua do Nego D’agua situada no mágico Rio São Francisco)
Ao contrário dos outros encantados o Tarimã (ou Negro D’agua) tem boa relação com os humanos. Suas histórias o apontam como uma entidade que sempre está observando as pessoas de longe e aparenta estar curioso sobre nossas ações.

Nessa falange se manifestam Marinheiros, Marujos, Pescadores, Capitães do Mar, Caiçaras e demais almas que, em vida, tiveram a lida diária com a imensidão do mar;

Geralmente essas entidades se manifestam cambaleando como se estivessem sendo movidos pelas ondas do mar, o que faz com que algumas pessoas em um primeiro momento acreditem que eles estão bêbados.

Ao contrário das Falanges anteriores, os Marinheiros trabalham descarregando e limpando as energias mais densas dos trabalhos, principalmente aquelas que vem junto com os consulentes e que foram retiradas durante a gira.

Por terem mais proximidade com a vivência humana também trabalham com aspectos do cotidiano como sorte, proteção, prosperidade, equilíbrio emocional, abertura de caminhos profissionais e tratamento de vícios. 

Em alguns terreiros se tornaram uma Falange tão popular que foram considerados Linhas Auxiliares e ganhando inclusive gírias próprias em ocasiões especiais, como no caso de nossa Tenda. 

A sexta falange - Falange da Estrela-Guia


A sexta falange é a mais misteriosa da Linha das Águas, cuja as informações eram passadas “ao pé do ouvido” por Umbandistas mais antigos por razões que não consegui decifrar em meus estudos.

Essa falange é chamada de Falange da Estrela-Guia e é comandada por Santa Maria Madalena.

É composta inteiramente por encantados que, segundo algumas informações, habitam o mar o profundo.

Por mais que haja pouquíssima informação registrada sobre essa falange, sabe-se que tem a função de reencaminhar os médiuns para o caminho certo. São evocados nos momentos em que os médiuns Umbandistas estão passando por suas “Trevas Interiores” e precisam de uma luz na caminhada.

Segundo alguns autores os trabalhos de magia feitos sobre a energia dessa falange eram jogados ao fundo do mar para que nunca mais pudessem ser desfeitos.

A sétima falange - Falange dos Calungas ou "Exus do Mar"


A sétima e última falange da Linha das Águas é chamada de Falange dos Calungas ou "Exus do Mar".

Comandados por uma entidade chamada Don Calunga ou também conhecido “Calunguinha do mar” essa falange é composta por Encantados e Almas Humanas que habitam o mar ou costa do mar.

A palavra “Calunga” significa “abismo” ou “mundo dos mortos”. Geralmente é associada aos mares devido ao GIGANTESCO número de mortos que eram jogados ao mar nas travessias dos navios negreiros para o Brasil.

Segundo Laurentino Gomes, em sua obra Escravidão, o número de africanos mortos na travessia do atlântico chegou a marca de 1.818.680 (um milhão, oitocentos e dezoito mil, seiscentos e oitenta) pessoas. O número de mortos era tão grande que os tubarões e outras espécies marítimas mudavam suas rotas e hábitos alimentares para seguir os Navios negreiros, pois sabiam que poderiam se alimentar dos africanos jogados ao mar.

Essas pessoas escravizadas geralmente morriam de doenças adquiridas durante a viagem ou também de Banzo (uma desânimo, depressão ou angústia que os abatia e fazia com que pulassem ao mar na “esperança” de se salvar). Na obra citada, Laurentino Gomes também cita um episódio em que uma "carga" inteira de africanos foi morta propositalmente por um capitão, para dar um golpe na seguradora.

E é dentro dessa conjuntura de fatores que a falange dos Calungas ou Exus do Mar se forma.

São agrupados nessa falange Encantados do “abismo” ou “fundo do mar” e Almas que desencarnaram em alto mar e foram acolhidos por esses Encantados.

Segundo algumas literaturas essas Almas foram acolhidas em um dos Reinos da Quimbanda, conhecido como Reino da Praia e assumiram a denominação “Exus do Mar” fazendo esse ponto de ligação com a sétima falange da Linha das Águas na Umbanda.

Duas das entidades mais conhecidas dessa falange são o Sr. Exu Maré e Sr. Exu Gererê (entidade que geralmente se apresenta como um homem velho e arcado).

É muito comum que as entidades dessa falange geralmente apresentem o sufixo “da Calunga” em seus nomes, indicando que trabalham com as energias das profundezas do mar. Por exemplo, “Exu Tiriri da Calunga”.

A função dessa linha é apenas uma: Descarregar nas profundezas do mar as energias mais densas que um trabalho de Umbanda pode gerar.

Raramente são chamados e por isso algumas dessas entidades muitas vezes se manifestam nas giras de Exu ou nas giras de Marinheiro quando é permitido.

Essa linha também pode ser chamada para tratar vícios como alcoolismo e são especialistas em desmanchar trabalhos feitos no mar ou na beira da praia.

Trabalho prático da Linha:

Segundos alguns relatos do começo do século passado, a Linha das Águas era chamada tanto na abertura quanto no fechamento da gira, justamente para realizar esse trabalho de limpeza espiritual no ambiente e nos médiuns.

Hoje em dia essas entidades já passam a trabalhar no ambiente de terreiro na medida em que se saúda Iemanjá na abertura dos trabalhos.

Também se manifestam nas giras onde é cantado para Iemanjá, Oxum e Nanã e em ocasiões especiais nas giras dedicadas aos Marinheiros e Exus.

Essas falanges respondem à evocações e oferendas que levam elementos como Pentes, Espelhos, Flores, Velas Brancas e Azuis (E vermelhas a depender da falange), Champanhe, Rum, Conhaque, etc.

Algumas dessas falange, especialmente das Caboclas dos Rios e dos Mares pode ser chamadas para auxiliar pessoas com quadros emocionais desequilibrados e também para realizar a limpeza de casas e demais ambientes carregados. 
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Autor: Lucas Martins
Revisão: Jefferson L. Grossl

Fontes:

“O Espiritismo, a Magia e as 7 Linhas de Umbanda - Leal de Souza”
“O Ritual do Rosário das Santas Almas Bendita - Pai Juruá”
“Trabalhos de Umbanda ou Magia Prática - Lourenço Braga”
“As 7 Linhas de Umbanda - Histórico e Evolução - Douglas Rainho”
“Organograma Umbandista - Linha, Falanges e Legiões - Douglas Rainho”
“As 7 Linhas de Umbanda - Falanges e Entidades - Carlos Zeferino’
"A História da Umbanda no Brasil - Diamantino Fernandes Trindade". "Escravidão, Volume I - Laurentino Gomes".

2 comentários:

  1. Texto excelente, muito esclarecedor. Ler sobre a nossa Umbanda tem se tornado um hábito e tem contribuído muito para minha vida. Cada dia aprendo um conceito novo e me torno mais firme na minha fé. Parabéns Lucas e Jefferson.

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    1. Obrigado! Que bom que gostou! Nosso objetivo é esse, trazer texto de fácil compreensão para demonstrar o que é a Umbanda! Ficamos felizes em estar contribuindo para a edificação de sua fé!

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