sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AS 7 LINHAS DA UMBANDA TRADICIONAL - 6ª LINHA - A LINHA DA DEMANDA

Este é o sexto de diversos textos onde vamos conhecer a fundo as 7 Linhas de Umbanda da perspectiva tradicional, ou seja, a configuração das 7 Linhas pela perspectiva dos velhos Umbandistas e primeiros estudiosos da religião.

Caso você ainda não tenha lido o texto onde abordamos a 5ª Linha de Umbanda, a Linha da Justiça, você pode ter acesso através desse link aqui: http://filhosdavovorita.blogspot.com/2020/08/as-7-linhas-da-umbanda-tradicional-5.html?m=1

Todas as informações trazidas aqui se baseiam nas obras de Leal de Souza, Lourenço Braga, Diamantino Fernandes Trindade, alguns autores Umbandistas contemporâneos e também experiências pessoais.

O propósito desses textos é buscarmos conhecer as raízes da nossa religião, entendendo de onde surgiu cada Linha, quais seus propósitos e especificidades, fazendo uma comparação com o que observamos atualmente nos terreiros.

Esperamos contribuir para o entendimento e esclarecimento dos irmãos de fé!


A Sexta Linha da Umbanda Tradicional - A Linha da Demanda


Nosso propósito com esse texto é aprofundar o conhecimento sobre os espíritos e falanges que compõem a sexta linha de Umbanda e também suas funções dentro do ritual.

Como explicamos no primeiro texto as 7 Linhas de Umbanda são uma forma de organização espiritual adotada nos terreiros de Umbanda a partir de 1908, onde os espíritos são agrupados em Linhas, Falanges, Legiões e Povos.

Essa estrutura foi baseada nas organizações militares Romanas antigas e foi se construindo e expandindo na medida que novos espíritos foram se aproximando da Umbanda.

Portanto, como uma verdadeira organização de batalha, as 7 Linhas de Umbanda foram estruturadas para que cada falange, legião e povo tenha uma função específica dentro do Ritual de Umbanda e quando agem em conjunto fazem com que o trabalho se desenvolva de forma fluída.

A linha de Demanda ou de Ogum é uma das mais cultuadas na maioria dos terreiros, justamente por tratar dos aspectos relacionados às nossas demandas emocionais, aflições e batalhas diárias.

É uma Linha que representa a conquista, a busca pela glória, a garra e o trabalho necessário para alcançarmos aquilo que queremos.

Essa linha também traz a força da SOBREVIVÊNCIA, ou seja, nos dá a força necessária para que nunca nos falte nada.

É uma Linha que nos leva cada vez mais a frente nos nossos objetivos, ela nos ajuda a abrir nossos próprios caminhos e prosperar independente de qualquer percalço que surja.

A força desse agrupamento nos mostra que já temos todos os recursos necessários para trabalhar, prosperar e avançar. 

Vamos conhecer mais sobre essa linha!

A regência da Linha:


Como já mencionado, toda Linha, Falange, Legião e Povo da Umbanda possui uma regência, ou seja, um Espírito ou Divindade responsável pelo comando e direcionamento daquele grupo de Espíritos.

Quem comanda a Linha da Demanda é São Jorge da Capadócia, militar e mártir da Igreja Católica que foi sacrificado em nome da Fé Cristã pelo Imperador Diocleciano.

Por mais que não existam registros de sua real existência, o “mito” de São Jorge o tornou um dos Santos mais populares do mundo sendo padroeiro de países como Inglaterra e Portugal e também de cidades como o Rio de Janeiro.

Sua história mais famosa conta que foi capaz de salvar a cidade de Sýlen na Líbia de um grande dragão que ameaçava a todos.

Em sua versão mais famosa Jorge enterra sua lança na garganta do Dragão, entretanto, existem versões que descrevem Jorge adentrando os portões da cidade montado e seu cavalo branco e conduzindo o dragão em uma coleira.

Seja como for, o Dragão nas mitologias daquela região representa os 4 elementos (Terra, Água, Fogo e Ar) e essa história expressa que Jorge foi capaz de dominar todas essas forças sendo capaz de ascender espiritualmente além das coisas materiais.

Outras interpretações sugerem que o Dragão representa Lúcifer (a origem do mal para a Fé cristã), o que faz dessa lenda uma representação do poder e domínio da Igreja Católica sobre o demônio.

Em terras brasileiras, esse Santo se tornou extremamente popular e faz parte do inconsciente coletivo da nação sendo na Umbanda sincretizado com o Orixá Ogum.


Ògún dentro do Culto Tradicional Yorubá é considerado um dos Orixás mais importantes e mais antigos.

É considerado o Orixá da Tecnologia e da Civilização e seu símbolo é o ferro. É dito que foi o Orisa que trouxe e Metalurgia ao mundo e por conta disso permitiu que os humanos deixassem de ser caçadores e coletores e criassem civilizações.

Ògún também é tido como Orixá da Guerra em terras brasileiras, porém no culto Tradicional Yorubá isso é questionável. Isso porque a palavra “guerra” em Yoruba se escreve Ogun (sem nenhum acento) enquanto que o Orixá Ògún se escreve com dois acentos.

Então pela semelhança nas palavras e pelo forte sincretismo com São Jorge, em terras brasileiras foi fortalecida essa associação entre Ogum e a guerra.
Para o culto tradicional, Ògún é antes de tudo o Orixá da CAÇA, sendo o comandante do Clã dos Caçadores. Esse clã é composto também por Òsóòsì (Oxossi) que no Brasil é considerado o Orixá que domina esse aspecto.


Além disso, no Culto Tradicional Yorubá, por mais contra intuitivo que pareça, Ògún é considerado o Orixá da JUSTIÇA. No Brasil, esse domínio foi atribuído a Orixá Xangô, como vimos no último artigo, entretanto, para os Yorubás a espada que traz a JUSTIÇA sempre esteve nas mãos de Ògún.

Tanto que quando um criminoso vai ser julgado na Nigéria, é costume ele colocar a mão sobre o ferro e jurar em nome de Ògún que falará somente a verdade.


Em suma, a importância de Ògún é absoluta pela quantidade de domínios que possui.

Além dos já citados é também considerado o Orixá da Fortuna, da Magia, do Trabalho, da Agricultura, da Medicina e de muitas outras coisas essenciais que garante a nossa SOBREVIVÊNCIA.


Na Umbanda, a força de ambas as divindades, Ogum e São Jorge, se mesclam e se manifestam através dos falangeiros da Linha de Demanda.


Quem compõem a linha:


A sexta Linha de Umbanda é composta por almas de antigos guerreiros de diversas etnias.

Como vimos anteriormente, nos primórdios da Umbanda quem abarcava os espíritos guerreiros era Falange de Santo Expedito, entretanto, com o passar do tempo isso mudou.

Espíritos de perfil guerreiros de diversas etnias passaram a se aproximar da religião e conjuntamente com a necessidade da Umbanda enfrentar demandas de uma maneira mais incisiva, a Falange de Santo Expedito se desdobrou na Linha de Ogum.

Os espíritos guerreiros ligados profundamente a Fé Cristã e Católica, ou seja, espíritos que assumem o arquétipo do Capelão, são agrupado na Falange de Santo Expedito enquanto que as outras almas guerreiras são abarcadas na Linha de Ogum fazendo um trabalho de embate.

Comumente os espíritos desta Linha são representados em suas imagens com aspectos de guerreiros romanos devido a resquícios dessa associação com Santo Expedito e também a São Jorge.


Além desses espíritos, também é comum encontrarmos Caboclos de Ogum que nada mais são que indígenas que trabalham sob a vibração deste Orixá.

Imagem de Ogum dos Rios


Curiosamente a grande maioria dos falangeiros de Ogum que se manifestam hoje na Umbanda, já se manifestavam anteriormente nas Encantarias Brasil afora, sendo chamados de “Os Soldados de Janaína”.

Por isso é muito comum também encontrar espíritos Encantados nesta Linha, espíritos Protetores da Mata de aspecto muito rígido, militar e que não costumam falar se limitando a bradar.

Os antigos Umbandistas, com sua fé católica muito enraizada, costumavam dizer que na “Corte de Ogum também vem São Miguel Arcanjo”, ou seja, a força protetora e guerreira desse Arcanjo também pode ser acessada através dessa Linha.

"São Miguel, São Miguel!
São Miguel está chamando! (2x)
Dai-me forças São Miguel
para chamar os Caboclos da Umbanda!"


Função da Linha:

Como o próprio nome diz, a Linha de Demanda trabalha no embate direto a todo tipo de demanda, feitiço ou agressão espiritual feita à Umbanda ou seus adeptos.

Essas entidades são OS VERDADEIROS GUARDIÕES E SENTINELAS da religião.

Apesar de algumas vertentes atuais de Umbanda, buscaram associar a figura de “guardião” aos compadres Exús, devemos lembrar que as 7 Linhas de Umbanda em um primeiro momento foram configuradas para funcionar SEM A NECESSIDADE DO TRABALHO DOS EXÚS!

As entidades chamadas Exús, oriundas das Kimbandas e Quimbandas, se aproximam posteriormente quando são convidados a fazer alguns trabalhos pontuais no combate a forças negativas.

Essas entidades foram se aproximando cada vez mais da religião até chegarem ao ponto de trabalharem concomitantemente com os falangeiros de Ogum nas defesas e combates espirituais como vemos hoje em dia.

Entretanto, apesar de realizarem trabalhos em conjunto, a função de Guardião da Umbanda é feita por Ogum.

Isso ocorre, pois como veremos em textos futuros, os Exús vêm de uma religião específica, com um conjunto de regras morais e éticas que muitas vezes difere das regras ditadas pela Umbanda

Portanto, NA UMBANDA, os Exús trabalham sob as ordens dos falangeiros de Ogum para que ajam sob A Lei de Umbanda em situações específicas onde sua ação é necessária.

Em uma analogia simples, os Falangeiros de Ogum seriam “Os Policiais” enquanto que os Exús atuariam como um “Esquadrão Anti-Bomba” sendo chamados para desmanchar trabalhos específicos de grande complexidade.

Portanto, podemos concluir que a Linha da Demanda realiza a proteção do terreiro e dos médiuns quando evocados para isso.

Como verdadeiros guardiões da Umbanda essa é a Linha que tradicionalmente abre os trabalhos de Umbanda permitindo que as outras entidades possam adentrar o recinto e se manifestar.

Além disso, as entidades dessa Linha nos ajudam a vencer nossas demandas internas e alcançar nossos objetivos. Nos dão forças nas nossas batalhas diárias, dando persistência para vencermos a cada dia.

São especialistas em “Abrir nossos caminhos”, ou seja, em momentos em que lutamos para sobreviver eles nos ajudam a encontrar formas de progredir e sair de situações penosas.

Também são entidades extremamente rígidas e que exigem uma moral e ética alinhada aos Umbandistas. Eles nos instigam a “Firmarmos nossa Bandeira” , ou seja, a mantermos nosso posicionamento e nos mantermos fiéis aos nosso valores independentes das circunstâncias.

Espiritualmente, eles são um dos “Executores” da Lei de Umbanda, ou seja, são entidades que fazem com que as regras ditadas pela religião sejam cumpridas à risca.

As falanges que compõem a Linha da Demanda

A primeira falange - Ogum Beira Mar:


A primeira falange da Linha de Ogum é comandada por Ogum Beira Mar.

Ogum Beira Mar é o grande Marechal de Guerra, o Principal do Falangeiros Ogum, sendo cultuado inclusive em cultos Caribenhos, Cubanos e nas Encantarias Brasil a fora.

É tido tradicionalmente como uma entidade que atua na orla marinha rondando à beira da praia. Muitas vezes é avistado como um guerreiro que está na proa de um navio olhando fixamente ao mar, como se estivesse vigiando aquela imensidão sem fim.

É conhecido em diversos cultos por ser uma força muito poderosa na busca pela fortuna.

Da sua linha se manifestam vários Encantados marinhos e almas de velhos guerreiros que viveram no mar, algo que nós hoje associaremos aos “Fuzileiros Navais”, ou seja, espíritos que em vida se dedicaram a defender as costas contra invasores.

Na Umbanda essa falange é associada a energia da Orixá Iemanjá e é compostas pela maioria das entidades que popularmente se manifestam nos terreiros de Umbanda.

Alguns falangeiros que trabalham sobre as ordens de Ogum Beira-Mar são: Ogum da Lua ou Ogum 7 Luas, Ogum 7 Ondas, Ogum Marinho ou Ogum 7 Mares, Ogum 7 Estrelas, Ogum Matinata, Ogum 7 Espadas, Ogum Delê ou Ogum de Lei, Ogum Gererê dentre outros.

É uma falange muito presente nos terreiros de Umbanda e geralmente costumam trabalhar incorporados nas giras fazendo a proteção do local e abrindo caminho para a manifestação das outras Linhas.

A segunda falange - Ogum Rompe Mato


A segunda falange é comandada por Ogum Rompe-Mato, entidade muito ligada ao povo das matas e a Linha de Oxossi.

Geralmente é confundido com o Caboclo Rompe-Mato, entidade que está inserido na falange do Caboclo Araribóia na Quarta Linha.

É tido como um Ogum muito rígido e guerreiro. É representando, ao contrário dos outros Oguns, com roupas tradicionais indígenas ao invés da tradicional vestimenta romana.

Este Ogum é tido como um especialista em resoluções rápidas, ou seja, é evocado quando precisamos lidar com alguma demanda ou dificuldade de maneira acelerada.

É dito que está falange consegue comandar os espíritos da mata de forma a colocá-los com sentinelas e protetores de casas e terreiros.

Alguns dos falangeiros que trabalham sob o comando de Ogum Rompe-Mato são: Ogum Pena Vermelha, Ogum Pena Azul, Ogum da Pedreira, Ogum Peito de Aço, Ogum da Estrada dentre outros.

A terceira falange - Ogum Iara



A terceira falange da Linha de Ogum é comandada por Ogum Iara.

Essa entidade trás o nome da Encantada brasileira Iara e não por coincidência trabalha conjuntamente com a Falange de Oxum.

Ogum Iara está diretamente alinhado com os povos dos rios, cachoeiras e lagos e é muito poderoso em aspectos de cura, cuidado e revitalização.

Tradicionalmente é evocado para lidar com batalhas de forma DIPLOMÁTICA, ou seja, onde através da força da argumentação conseguimos vencer sem a necessidade de lutar.

Entidade que também é muito presente das Encantarias Brasil a fora, Ogum Iara está inserido fortemente na cultura brasileira e costuma guardar os pontos de força da mata e dos rios.

Os falangeiros mais conhecidos de Ogum Iara são o Sr. Ogum Beira-Rio, Ogum 7 Lagoas, Ogum dos Rios, Ogum Caiçara, Ogum Menino dentro outros.


A quarta falange - Ogum Megê:

A quarta falange da Sexta Linha de Umbanda é comandada pelo Sr. Ogum Megê.

A partir desta quarta falange, começaremos a observar um fenômeno interessante.

Tradicionalmente a partir dessa falange, os Pais de Santo mais antigos evitavam a incorporação desses Oguns se limitando a trabalhar apenas EVOCANDO tais espíritos.

Isso acontece pois a partir da falange de Ogum Megê, no entendimento mais antigo, existe um trânsito constante entre “A Direita e a Esquerda”, ou seja, esses falangeiros tendem a trabalhar com energias muito mais densas e que podem desestabilizar o campo energético de médiuns menos experientes.

Hoje em dia, temos a popularidade de uma entidade chamada Ogum-Xoroquê que é tido como uma entidade “meio Ogum e meio Exu” e portanto faz o trânsito entre as duas bandas.

Entretanto, tradicionalmente, vemos que isso já ocorria nas falanges de Ogum antes mesmo do advento ou aparição dessa entidade.

O que nos faz pensar sobre a real existência dessa entidade, visto que ela não existe no culto tradicional Yorubá… (Na visão dos sacerdotes do Candomblé Jeje, Sòhòkwè não é nem Èsú nem Ògún e, sim um vòdún independente, com culto próprio e de características próprias que acabou por ser fundido a cultura desses dois òrísás por ter coisas em comum. Nesse link https://ocandomble.com/2011/04/30/vodun-sohokwe-xoroque/ você poderá conhecer mais a fundo a visão Jeje sobre o vodum Sòhòkwè).

Seja como for, Ogum Megê é tido como o Guardião da calçada dos cemitérios. Eles realiza a CONTENÇÃO desse local, mantendo lá dentro tudo que deve ficar lá.

É uma entidade que comumente também se manifesta em cultos como a Quimbanda o que mostra sua profunda relação com os Exús.

Suas oferendas tradicionais são feitas na calçada do cemitério e costumam levar pipocas com dendê.

Suas cores são o vermelho, branco e preto e seus falangeiros são constituídos pelos povos Megês, ou seja, almas de antigos guerreiros escravizados africanos.

Seu principal falangeiro é o conhecido Ogum das Almas.

Uma curiosidade é que algumas pessoas associam uma entidade chamada Ogum de Ronda a essa falange, entretanto, existem alguns autores afirmam que Ogum de Ronda não é uma linha em si, mas sim uma FUNÇÃO de Ogum.

Ou seja, Ogum de Ronda, significa que Ogum ESTÁ de Ronda e não que existe uma linha com esse nome.

Provavelmente isso foi uma confusão iniciada nos primórdios da Umbanda e que se popularizou com o tempo dando “origem” à uma nova linha de Ogum.

A quinta falange - Ogum Malê

A quinta falange de Ogum é comandada por uma entidade chamada Ogum Malê ou Ogum Malei.

Está falange está diretamente ligada ao povo Malê que foi escravizado e trazidos para as terras brasileiras.

Geralmente se apresentam como guerreiros vestidos com roupas tradicionais de guerreiros do deserto e fortemente armados. Representando seu aspecto feroz de guerra e embate.

A entidade mais notória dessa falange foi o próprio Orixá Mallet ou Orixá Malê, que foi uma das entidades que ao lado de Pai Antônio e o Caboclo das 7 Encruzilhadas ajudou a moldar o culto de Umbanda.

Orixá Mallet é tido com o “Primeiro Ogum de Umbanda”. Ele foi o espírito comandante nas proteções da Tenda Nossa Senhora da Piedade, visto que Zélio Fernandino de Morais não trabalhava com os Exus e Pombagiras.

Essa é uma falange extremamente feroz no combate a demandas, feitiços e aos feiticeiros em si.

Quem se interessar em conhecer mais profundamente os Povos Malês sugerimos que assista a essa aula do Babá Mario Filho:


Nela ele explica a profunda influência dos povos islâmicos na Umbanda e pode te ajudar a traçar um paralelo entre essas entidades que estamos estudando.

A sexta falange - Ogum Naruê


A Falange de Ogum Naruê é uma falange de antigas almas africanas que trazem um aspecto feiticeiro muito latente. Trabalham combatendo feitiçaria pesada e fazem um cruzamento muito estreito com os Povos das Almas de Kimbanda.

O combate a Kiumbas e o encaminhamento de espíritos são as especialidade dessas entidades. Entram em embate direto com forças maléficas e não costumam dar conselhos, apenas atuam quando extremamente necessário.

É uma Linha que os antigos Umbandistas tinham certo receio em incorporar, devido a densidade que essas entidades trabalham.

A Sétima falange - Ogum Nago


A sétima falange da Linha de Ogum é comandada por Ogum Nagô.

Essa falange abarca uma grande gama de espíritos guerreiros africanos tanto de origem Nagô-Yorubá quanto de origem Bantu (Congo e Angola)

Ogum Nagô é conhecido por fazer um trânsito muito forte com os espíritos de Kimbanda, mais especificamente com o Povo de Ganga, um grupo de espíritos muito temidos na Quimbanda Tradicionais devido a sua ferocidade.

O povo de Ganga geralmente é facilmente identificado tanto pela ferocidade em suas manifestações como em seus pontos riscados, onde trazem desenhado uma espada curva muito semelhante a bandeira de Angola.

A Falange de Ogum Nagô é muito evocada para enfrentar magias e ataques PESADOS aos terreiros, consulentes e médiuns.

Devido a esse trabalho de lidar diretamente com espíritos rústicos, agressivos e maldosos essas entidades tem a peculiaridade de se apresentar como figuras “Totênicas”, ou seja, metade homem e metade animal.

Geralmente se apresentam como Touros ou Bufalos na parte de cima com pernas humanas embaixo, e fazem isso com a intenção de causar medo a esses seres trevosos.

Por conta desse aspecto “estranho” é muito difícil encontrar imagens de cera de Ogum Nagô e seus falangeiros.

É uma falange muito que dificilmente vai trabalhar incorporada na Umbanda, se limitando apenas a trabalhar no astral quando evocadas para isso.

Trabalho prático da Linha:

Como visto anteriormente as falanges de Ogum são evocadas tanto para proteção quanto para abertura de caminhos.

Seu trabalho se desdobra em diversas ações que visam combater o mal e os inimigos da religião e do adeptos.

Podemos evocar essa linha nos momentos de aflição e caminhos fechados com o intuito de que ela nos traga ferramentas, mais trabalho, mais energia e mais garra para que NÓS MESMOS possamos romper aquela circunstância e avançar.

Pedir caminhos abertos a Ogum é pedir MAIS TRABALHO, MAIS ESFORÇO e MAIS DISCIPLINA, afinal os caminhos não se abrem sozinhos.

É importante salientar que nenhuma entidade ou guia abrirá os nossos caminhos. Eles simplesmente nos mostram oportunidades que não estávamos enxergando, nos mostram as ferramentas que JÁ temos para vencer… 

Mas no final, somos nós mesmos que temos que trabalhar para abrir nossos caminhos e prosperar.

Portanto, as Linhas de Ogum devem ser evocadas com sabedoria, nos momentos em que temos certeza que estamos sendo atacados seja espiritualmente ou fisicamente.

Não devemos apelar para essas entidades sem a devida necessidade, afinal seu perfil de trabalho é de combate e não devem ser evocados para tratar situações fora desse escopo. Antes de rogar a Ogum por caminhos abertos tenha certeza que você está disposto a TRABALHAR por ele…

Isso é uma distinção fundamental para honrar o sagrado que essa linha representa!

Observamos na atualidade que o conhecimento sobre o trabalho e a atuação dessas falanges estão sendo esquecidos ou deixados de lado. Hoje, para o umbandista moderno, as expressões "caminhos" e "guardiões" são sinônimos de Exu. Contudo, como já dissemos acima, na formação da Umbanda, Exu desempenha funções muito específicas, competindo à Linha de Ogum a guarda dos templos, a abertura dos caminhos e o combate nas demandas.

Que possamos, através desse conhecimento, manter viva a tradição da Umbanda, deixando de lado todo modismo e invencionices. 

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Autor: Lucas Martins
Revisão: Jefferson L. Grossl

Fontes:

“O Espiritismo, a Magia e as 7 Linhas de Umbanda - Leal de Souza”
“O Ritual do Rosário das Santas Almas Bendita - Pai Juruá”
“Trabalhos de Umbanda ou Magia Prática - Lourenço Braga”
“As 7 Linhas de Umbanda - Histórico e Evolução - Douglas Rainho”
“Organograma Umbandista - Linha, Falanges e Legiões - Douglas Rainho”
“As 7 Linhas de Umbanda - Falanges e Entidades - Carlos Zeferino’
"A História da Umbanda no Brasil - Diamantino Fernandes Trindade".

sábado, 1 de agosto de 2020

AS 7 LINHAS DA UMBANDA TRADICIONAL - 5ª LINHA - A LINHA DA JUSTIÇA

Este é o quinto de diversos textos onde vamos conhecer a fundo as 7 Linhas de Umbanda da perspectiva tradicional, ou seja, a configuração das 7 Linhas pela perspectiva dos velhos Umbandistas e primeiros estudiosos da religião.

Caso você ainda não tenha lido o texto onde abordamos a Quarta Linha de Umbanda, a Linha das Matas, você pode ter acesso através desse link aqui: https://filhosdavovorita.blogspot.com/2020/07/as-7-linhas-da-umbanda-tradicional-4.html?fbclid=IwAR0V-yTjlNh0LASWqqpaKYOIVc3sIGAyYQKd6u3R4aj9fKpEvlItr3hcsKA

Todas as informações trazidas aqui se baseiam nas obras de Leal de Souza, Lourenço Braga, Diamantino Fernandes Trindade, alguns autores Umbandistas contemporâneos e também experiências pessoais.

O propósito desses textos é buscarmos conhecer as raízes da nossa religião, entendendo de onde surgiu cada Linha, quais seus propósitos e especificidades, fazendo uma comparação com o que observamos atualmente nos terreiros.

Esperamos contribuir para o entendimento e esclarecimento dos irmãos de fé!

A Quinta Linha da Umbanda Tradicional - A Linha da Justiça


Nosso propósito com esse texto é aprofundar o conhecimento sobre os espíritos e falanges que compõem a quinta linha de Umbanda e também suas funções dentro do ritual.

Como explicamos no primeiro texto, as 7 Linhas de Umbanda são uma forma de organização espiritual adotada nos terreiros de Umbanda a partir de 1908, onde os espíritos são agrupados em Linhas, Falanges, Legiões e Povos.

Essa estrutura foi baseada nas organizações militares Romanas antigas e foi se construindo e expandindo na medida que novos espíritos foram se aproximando da Umbanda.

Portanto, como uma verdadeira organização de batalha, as 7 Linhas de Umbanda foram estruturadas para que cada falange, legião e povo tenha uma função específica dentro do Ritual de Umbanda e quando agem em conjunto fazem com que o trabalho se desenvolva de forma fluída.

A Linha da Justiça dentro da Umbanda tem a função de orientar os terreiros e as entidades sobre todas as ações que podem ou não ser realizadas em uma casa de Umbanda.

É uma Linha que possui grande domínio e entendimento sobre as Leis Naturais e portanto tem a missão de guiar as ações de todas as entidades de Umbanda para que não causem nenhum desequilíbrio na natureza.

Portanto, nenhum trabalho é realizado em uma casa de Umbanda sem o aval dos integrantes dessa linha.

Isso porque essas entidades zelam pelo EQUILÍBRIO em toda as relações, portanto, guiam nossas decisões para não gerarmos “Karma” em nossas vidas e nem tomemos ações erradas.

Essa também é a linha responsável por se fazer cumprir a Lei de Causa e Efeito, fazendo com que todas as consequências de nosso atos cheguem até nós, sejam elas boas ou ruins.

As entidades dessa linha têm amplo domínio sobre os aspectos duais da natureza como o Sol e a Lua, Tempestades e Calmarias e também possuem alto grau de conhecimento sobre o Bem e o Mal, o que as faz aptas para gerir e julgar as situações com grande sabedoria.

A regência da Linha:

Como já mencionado, toda Linha, Falange, Legião e Povo da Umbanda possui uma regência, ou seja, um Espírito ou Divindade responsável pelo comando e direcionamento daquele  grupo de Espíritos.


A Linha da Justiça é regida por São Jerônimo, um dos doutores da Igreja Católica e o responsável pela primeira tradução da Bíblia para o Latim. 

Jerônimo, por todos os seus anos dedicados ao estudo da Bíblia é considerado “O Santo que interpreta a lei com excelência” portanto, faz muito sentido ser a principal força regente da Linha da Justiça.

É um Santo que no Brasil foi associado ao Orixá Xangô, especialmente por conta do Leão que sempre está ao seu lado em suas imagens representativas.

O Leão de São Jerônimo representa nada mais nada menos do que Jesus, “O Leão da Tribo de Judá” que transmitiu a esse santo o conhecimento necessário para que esse traduzisse a Bíblia e levasse A Palavra a todos os povos.

Entretanto, como o leão também é popularmente conhecido como o Rei da Selva e Xangô é tido como o grande Rei e Monarca dos Orixás, foi feito essa associação para basear o sincretismo entre as duas divindades.

Xangô, em compensação é considerado o Orixá da Justiça, devido a ter sido Rei do Império de Oyó. O monarca naquela época era considerado o Juiz, o Juri e o Executor de sua comunidade, sendo a autoridade máxima quando se tratava das Leis.

Esse é um dos Orixás mais cultuados em terras brasileiras, tendo inclusive um culto próprio em sua homenagem no Maranhão. Xangô é considerado pelos Yorubás o Orixá que trás a Vitória, o Poder e a Glória.

É dito que Xangô é o grande Líder, aquele que traz notoriedade à todo aquele que o cultua. É um Orixá que abomina a mentira e que traz soluções para qualquer problema desde que seja trazido a Verdade à sua frente.

Existem ditados que dizem que "Xangô possui 200 otás", simbolizando sua capacidade de achar 200 soluções para cada problema que lhe é apresentado. Esse aspecto faz com que seja cultuado pelas pessoas que querem se tornar mais estudiosas, estrategistas e passar em concursos, vestibulares, entrevistas, dentre outras coisas que demandam de grande capacidade mental.

Seus símbolos são o Oxê (machado de dois gumes que corta o mal e intensifica o bem), a Balança (que representa seu aspecto de Juiz e Justiceiro) e o Fogo (que representa seu poder e a capacidade de sair vitorioso de qualquer situação)


Xangô, ao contrário dos chamados Orixás Primordiais do Panteão Yorubá como Exu ou Oxalá por exemplo, é considerado um ser divinizado, ou seja, é dito que realmente teve um encarnação e tornou-se Orixá após sua morte.

Inclusive, é muito comum em algumas partes da Nigéria, que algumas pessoas afirmem ter uma ligação sanguínea familiar com este Orixá, sendo tratados como descendentes diretos dele.

A título de curiosidade, em terras Yorubás, o termo “filho de Orixá” foi construído baseado em uma ligação sanguínea, ao contrário do que acontece do Brasil. Portanto lá, só é filho de Ògún por exemplo quem tem uma ligação sanguínea e familiar com esse Orixá na sua linhagem ancestral, enquanto aqui no Brasil ser filho de Ogum significa ter uma predominância da energia desse Orixá no seu Ori (coroa mediúnica).

Caso você se interesse em conhecer mais sobre os Orixás do ponto de vista tradicional da cultura Iorubá, sugerimos que conheça o trabalho do orientador nigeriano Babá King. Ele atua no Brasil há muitos anos, disseminando o conhecimento sobre os Orixás do ponto de vista da Cultura Yorubá, que originou essas divindades.

Inclusive possui um curso só sobre o Orixá Sangó que você pode conhecer através desse link aqui: https://p.eduzz.com/102695?a=78619380

Quem compõem a linha:


A Linha da Justiça é compostas basicamente por Caboclos, Encantados e Pretos-Velhos.

Os Caboclos de Xangô geralmente são mais reservado, sérios, falam pouco, se movimentam pouco e tendem a ter falas duras quando resolvem discursar. Alguns quando incorporam, geralmente batem no peito e bradam com a intenção de demonstrar a rigidez das rochas e força da natureza que representam.

São entidades que exigem muito respeito por parte dos Umbandistas e costumam não gostar de brincadeiras, zelando pela rigidez e disciplina no trabalho.

Também dessa linha se manifestam muitos Encantados responsáveis por fenômenos da natureza como chuvas, tempestades, etc.

É interessante observar que antigamente era costume que as entidades fossem muito evocadas para a proteção de locais e pessoas contra fenômenos da natureza.

Pessoas que viviam em morros e tinham de conviver diariamente com a ameaça de deslizamentos por exemplo, costumavam rogar pelos Caboclos e Encantados dessa linha para livrá-los desse tipo de perigo.

Um terreiro que representa muito esse aspecto é o Instituto Cacique Cobra Coral localizado em Guarulhos e comandado pela médium Adelaide Scritori, que ficou famoso por realizar previsões e intervenções meteorológicas.

Inclusive esse instituto mantém contrato com a prefeitura de São Paulo e Rio de Janeiro até hoje para intervir energeticamente para que não chova em eventos como o Réveillon de Copacabana e o Rock In Rio, por exemplo.

Isso mostra o quanto às Linhas de Umbanda têm funções e ferramentas muitos mais amplas do que apenas o trabalho de atendimento de terreiro, bem como demonstra o quanto se aprofundar no estudo das linhas Tradicionais.

Função da Linha:

A função dessa linha consiste em equilibrar tudo o que compõem a natureza.

É dito que essas entidades estão relacionadas a fenômenos da natureza que representam a tentativa do planeta em equilibrar todo um ecossistema, como por exemplo queimadas e terremotos.

Eles mostram a conexão profunda e estreita que a Umbanda possui com tudo que concerne a natureza, nos fazendo perceber como estamos conectados a nosso ecossistema.

Por possuírem domínio sobre essas questões é dito que são capazes de fazer com que a Lei de Ação e Reação se cumpra, ou seja, atuam dentro da Umbanda fazendo com a Justiça seja feita e com que as consequências dos nossos atos cheguem até nós.

Podem ser evocados em causas judiciais para que os culpados paguem o que devem e os inocentes sejam ressarcidos pelo que sofreram. Como nos fala aquele ponto antigo:  "Xangô morava pedreira, viveu escrevendo em uma pedra. Ele escreveu a justiça, quem deve paga e quem merece recebe!"


As falanges que compõem a Linha da Justiça

Agora que já conhecemos a regência, os tipos de espíritos que compõem a Linha e sua função dentro do Ritual de Umbanda, vamos nos debruçar sobre as falanges que a compõem.

A primeira falange - A falange de Santa Bárbara ou de Iansã


A primeira Falange da Linha de Xangô é regida por Santa Bárbara, Santa protetora contra os Raios e as Tempestades e que, em terras brasileiras, foi sincretizada com a Orixá Iansã. 

As forças de Santa Bárbara em solo brasileiro são tão presentes e populares que inclusive comandam alguns cultos ao norte do Brasil.

Dentre eles podemos citar a Encantaria de Barba Soeira (corruptela das palavras “Santa Bárbara”) que também é conhecida como Terecô ou Tambor da Mata e que ganhou notoriedade graças ao saudoso Pai Bita do Barão, maior expoente desse culto.

Nesses cultos e na cidade de Codó - MA, como um todo é muito comum o uso do termo “Matas de Santa Bárbara”, simbolizando o controle que essa força exerce sobre os Encantados das Mata.

Iansã é uma Orixá que foi associada à esta santa justamente por também possuir domínio sobre a Guerra, as Chuvas, Relâmpagos e Tempestades. Sendo considerada o maior expoente do poder feminino dentro do panteão dos Orixás.

Essa é uma falange muito misteriosa mas que se tornou tão popular que acabou gerando algumas dissidências em alguns terreiros tradicionais. 

Em alguns terreiros essa falange é considerada parte das 7 Linhas principais de Umbanda e em outros (como é o caso da nossa Tenda) é considerada parte da Linha da Justiça.

A Falange de Santa Bárbara ou Iansã, é composta quase que inteiramente por ESPÍRITOS FEMININOS, sendo em sua maioria Encantados. Esses espíritos geralmente se manifestam girando pelo terreiro como se estivessem manipulando e conduzindo os ventos.

São entidades que podem ser evocadas para movimentar situações que estão “paradas” como processos judiciais por exemplo e que também realizam trabalhos muito precisos curando as AFLIÇÕES emocionais das pessoas.

A palavra chave para essa linha é MOVIMENTO.

"Ventou... afastando de mim todo mal que havia.... Ventou... e o sol já raiou clareando meu dia! Tu és a razão do meu ser a minha companhia! À ti, eu entrego minha vida, minha estrela guia! Senhora dona dos ventos, dos raios do temporal... em sua companhia me sinto imune de todo mal..." 

Tudo aquilo que está parado, em estado de apatia ou extremamente rígido pode ganhar movimento através da força dessa Linha.

Desde pessoas com um estado emocional de desânimo, negócios e comércios com poucos clientes, espíritos perturbadores que habitam os lares das pessoas, dentre outras coisas.

Nessa estrutura encontraremos a Legião das Caboclas dos Ventos e a Legião das Caboclas dos Raios, que são basicamente Caboclas que dominam as energias dos aspectos climáticos.

A Legião de Balè que é composta por espíritos femininos (geralmente encantados) que tem a função de conduzir eguns até o mundo dos mortos.

E também a Legião das Amazonas ou Icamiabas, que são espíritos da Tribo das Icamiabas. 

As Icamiabas foram um grupo indígena composto por mulheres indígenas guerreiras que habitavam o norte do Brasil e que devido a sua semelhança com o mito das amazonas gregas antigas, deram o nome do estado do Amazonas como conhecemos hoje.

A segunda falange - A Falange do Caboclo do Sol e da Lua



A segunda falange da Linha da Justiça é comandada pelo Caboclo do Sol e da Lua, entidade que domina as forças positivas e negativas, passivas e ativas da natureza.

Pode-se dizer que os Caboclos que se manifestam nessa falange trabalham com “Astrologia”, no sentido de considerar as energias dos astros para realizar suas magias, colher ervas e realizar sua pajelança como um todo.

Essas entidades atuam no equilíbrio emocional das pessoas, serenando aquelas que estão profundamente ansiosas e elétricas, bem como trazendo vitalidade para aquelas que estão profundamente desanimadas.

Algumas das entidades que compõem essa falange são Encantados que guiavam os Pajés em seus rituais desde os tempos mais imemoriais.

Alguns Caboclos que comumente vêm desta falange são: Caboclo Guaraci, a Cabocla Jaci, o Caboclo Tupã, Caboclo 7 Luas, Caboclo 7 Estrelas, Caboclo Girassol, etc.

É importante salientar que comumente, não é NECESSARIAMENTE, ou seja, não é uma regra que os espíritos que apresentam esse nomes devem obrigatoriamente vir dessa falange. Isso é apenas um padrão que foi observado durante os anos.

Vamos sempre lembrar que a Umbanda não segue modelos fechados, como algumas vertentes mais novas buscam pregar.

Cada entidade trás uma história única e uma razão pessoal para usar um determinado nome.

Portanto, devemos tomar cuidado antes de associar que “todo Caboclo Pena Branca” é de Oxalá, por exemplo.

A terceira falange - A Falange do Caboclo Pedra Branca



A terceira falange da Linha da Justiça é comandada pelo Caboclo Pedra Branca, entidade muito associada ao uso de minérios em trabalhos espirituais e também a descoberta de pedras preciosas.

Os Caboclos e Encantados dessa falange também são conhecidos como “Povos das Montanhas”, justamente por compor entidades que em vida viviam nesses locais.

São Caboclos muito rudes, intensos e enérgicos que geralmente vem bradando e aparentam estar batendo pedras nas mãos.

Quando cantamos para o Orixá Xangô são geralmente essas entidades que incorporam.

Trabalham especialmente trazendo força e proteção energética para o corpo astral dos médiuns, tornando-os menos afetados pelas energias densas que são movimentadas durante os trabalhos.

A palavra chave dessa linha é FORÇA.

São evocados para trazer fortalecimento energético, mental, emocional e espiritual para todos aqueles que buscam a sua ajuda.

São espíritos de uma sabedoria imensa, devido ao fato de em vida terem vívidos em lugares de tão difícil acesso e sobrevivência, como são as montanhas, morros e serras.

Os Caboclos que geralmente vem desta falange são o Caboclo 7 Montanhas, Caboclo 7 Pedreiras, Caboclo Serra Negra, Caboclo Pedra Preta, dentre outros.


A quarta falange - A Falange do Caboclo Ventania


A quarta falange é comandada pelo conhecido Caboclo Ventania.

Os Caboclos desta falange são conhecidos por comandar algumas entidades conhecidos Silfos e Sílfides, que nada mais são do que elementais do ar, ou seja, entidades que dominam os ventos e outros aspectos relacionados ao ar.

Eles usam essas entidades para resolver causas rápidas e urgentes, tanto em questões Judiciais quanto causas relacionadas a Saúde.

Portanto são evocados em momentos que precisamos de uma resolução rápida e cirúrgica que não podem esperar. 

São entidades que atuam com grande poder de cura em quase todos os quadros mentais como esquizofrenia, por exemplo. 

Por fim, é dito que eles são responsáveis por cumprir as “sentenças” emitidas na Linha de Xangô. São aqueles que literalmente fazem com o que o “Karma” ou as consequências dos nossos atos cheguem até nós.

Ou seja, se você fizer algo errado perante a Lei de Umbanda serão eles e os Pretos Velhos Quenguelês (e não os Exus como é dito nas novas Umbandas) que serão os responsáveis por trazer as consequências e te fazer pagar pelos seus atos.

A quinta falange - A Falange do Caboclo 7 Cachoeiras



A quinta falange é comandada pelo Caboclo 7 Cachoeiras ou também conhecido Caboclo Cachoeira ou Cachoeirinha.

É sem dúvida a falange mais versátil da Linha de Xangô, podendo atuar em várias frentes.

Os Caboclos desta falange são grandes conhecedores do ciclos da natureza, sabendo quando haverá cheias nos rios, quando as cachoeiras terão precipitações de água mais fortes, etc.

Portanto podem atuar avisando quando desastres naturais estão por vir para que nos protejamos.

Esses Caboclos também sabem usar as fases da Lua, as estações do ano e diversos outros ciclos da natureza para realizar magias específicas e muito precisas para diversos fins.

Isso faz deles grandes “feiticeiros” para atuar em diversas situações desde a quebra de demandas até aspectos de prosperidade.

Essa falange também trás energização pessoal e vitalidade para aqueles que os pedem ajuda. 

É dito que eles costumam reestruturar o campo energético de pessoas que passaram por longos períodos sob alguma obsessão espiritual, literalmente curando as feridas astrais que surgem nesse tipo de processo.

São Caboclos que trabalham lado a lado com a Linha das Matas, podendo até vir algumas vezes durante as giras dos Caboclos de Oxossi e dar consultas, pois são muito mais habituados a lidar com nós os encarnados.

A Sexta falange - A falange do Caboclo Treme-Terra


O Caboclo Treme-Terra também é tido como um encantado e muitas das entidades dessa falange também o são. É dito que são espíritos da natureza responsáveis pela atividade geológicas da terra. (Ler questão 537-A do Livro dos Espíritos).

Nesse caso vale lembrar que dentro da linha da Justiça, existem espíritos que atuam trazendo equilíbrio EM TODA A NATUREZA, ou seja, algumas entidades que compõem essa falange atuam gerando terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis e outros fenômenos da natureza que nada mais são que uma forma de reequilibrar todo um ecossistema.

Essa falange representa a máxima de que para que algo novo possa ser construído algo ultrapassado deve ser destruído. Somente através do choque, pode-se alcançar a harmonia.

Essa analogia pode ser levada desde fenômenos da natureza, até a destruição de padrões emocionais ultrapassados e rígidos nos impedem de alcançar a harmonia e evoluir.

As palavras chaves desta falange são ESTABILIDADE e CONSTÂNCIA.

Isso porque essas entidades trazem aquele aspecto firme, equilibrado e inabalável dos Caboclos de Xangô.

Portanto, podemos evocar essas entidades em momentos em que nos sentimos muito afetados pelos acontecimentos externos, nos momentos em que tudo parece dar errado e precisamos nos manter firmes.

O símbolos desta falange são a Machadinha e o Tacape e suas cores são o Marrom, Branco e Vermelho.

Curiosamente esses Caboclos não costumam se apresentar como indígenas brasileiros, mas sim Africanos de pele negra, remetendo aos povos nativos africanos antes da colonização.

A sétima falange - A Falange dos Pretos Quenguelês


A falange dos Pretos-Velhos Quenguelê é um subgrupo da Falange de Moçambique que atua na Linha da Justiça. É chefiada por Pai Quenguelê, um Preto-Velho extremamente enérgico.

Quenguelê significa “Tomar conta” ou “Zelar” e representam muito bem o trabalhos dessas entidades.

Isso acontece pois os Pretos-Velhos desta falange são verdadeiros árbitros, juízes e executores da Umbanda. 

São responsáveis por fazer os médiuns e o terreiro andarem na linha. Eles NÃO DÃO CONSELHOS, eles executam ações para corrigir as pessoas.

São figuras extremamente fortes e na Umbanda antiga eram realizadas giras especiais para essas entidades para que elas pudessem orientar os médiuns e os dirigentes a respeito de como as coisas deveriam ser feitas.

Caso as coisas não se desenrolassem da maneira como foi orientada, eram esses mesmos pretos-velhos que faziam as consequências das irresponsabilidades chegarem até os merecedores.

São pretos-velhos muito tradicionalistas e imparciais, muito diferente dos pretos-velhos “bonzinhos” que estamos acostumados a ver.

Eles são literalmente o braço da magia e do feitiço dentro da Linha de Xangô. 

São esses Pretos-Velhos que acabam por “devolver” ou “rebater” demandas feitas por feiticeiros encarnados e desencarnados contra os terreiros e os adeptos, quando julgam tais ações justas perante as Leis da Natureza.

Trabalho prático da Linha:


Como já foi visto o trabalho com a Linha da Justiça é um trabalho de extrema RESPONSABILIDADE.

Através dessa Linha aprendemos que somos responsáveis pelos nossos atos, que tudo aquilo que fazemos gera alguma reação e que essas reações vão chegar até nós uma hora ou outra.

Essa Linha ensina que devemos ter cuidado com nossas palavras, pensamentos e comportamentos para que não sejamos vítimas de nossas próprias ações.

Portanto, se estiver errado em uma situação não peça Justiça à essa linha, peça FORÇA e RESISTÊNCIA para passar pelas consequências daquilo que você mesmo criou.

E apesar da tamanha rigidez e imparcialidade que essas entidades apresentam, também trazem uma implacável capacidade de nos ajudar quando estamos certos.

Eles nos ajudam a desenvolver a força necessária para sair vitoriosos de qualquer situação de injustiça ou demanda enviada até nós.

Por isso, tenhamos sabedoria e responsabilidade para lidar com essa Linha pois se seguirmos essa postura, nunca nos faltará força e poder para enfrentar qualquer situação.

Por último, lembre-se que JUSTIÇA NÃO É VINGANÇA.

A Justiça de Xangô atua fazendo com que aquele que merece seja ressarcido pelo o que lhe foi feito e aquele que fez a falta tenha força para enfrentar as consequências do que fez.

Xangô e Linha da Justiça não atua fazendo mal a ninguém, muito pelo contrário, atua a favor de REEQUILIBRAR toda situação que lhe foi solicitada.

Concluindo, antes de evocar essa linha para alguma causa pessoal tenha certeza que o PERDÃO já está presente no seu coração.


***********************************************************************************************************Autor: Lucas Martins
Revisão: Jefferson L. Grossl

Fontes:

“O Espiritismo, a Magia e as 7 Linhas de Umbanda - Leal de Souza”
“O Ritual do Rosário das Santas Almas Bendita - Pai Juruá”
“Trabalhos de Umbanda ou Magia Prática - Lourenço Braga”
“As 7 Linhas de Umbanda - Histórico e Evolução - Douglas Rainho”
“Organograma Umbandista - Linha, Falanges e Legiões - Douglas Rainho”
“As 7 Linhas de Umbanda - Falanges e Entidades - Carlos Zeferino’
"A História da Umbanda no Brasil - Diamantino Fernandes Trindade".

T.U. Filhos da Vovó Rita

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