Em 1900 foi para o
Rio de Janeiro onde cursou Direito sem concluí-lo. Nessa mesma cidade, destacou-se como
secretário e repórter dos periódicos Careta, A Noite, Diário
de Notícias e A Nota. Como repórter deu o furo sobre o
assassinato de Euclides da Cunha. Leal de Souza frequentava a roda literária
formada por Olavo Bilac (o qual apresentou Leal de Souza as principais paginas
de jornais da época como poeta), Martins Fontes, Coelho Neto, Luis Murat,
Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e outros
(Figura 1). Além de poeta, escritor, crítico literário,
conferencista e jornalista foi também tabelião.
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Figura 1. Reunião da Sociedade dos
Homens de Letras, em 1915. Olavo Bilac aparece na foto indicado pelo número 15
e Leal de Souza pelo número 16.
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Em
03/10/1918, aos 38 anos, casou-se com Gabriella Ribeiro Leal de Souza, com a qual
teve três filhos. Leal de Souza já era escritor consagrado com
mais de quatro títulos publicados quando iniciou seus trabalhos no espiritismo.
§ - O
Álbum de Alzira (Porto Alegre, 1899);
§ - O Almanaque Regional (Santa Maria (RS),
1915-1917);
§ - Bosque
Sagrado (Rio de Janeiro, 1917);
§ - A
Mulher na Poesia Brasileira (Rio de Janeiro, 1918)
§ - A
Romaria da Saudade (Rio de Janeiro, 1919)
++ Canções
Revolucionárias (Rio de Janeiro, 1923)
Mais
tarde publicaria:
§ * No Mundo dos Espíritos (Rio
de Janeiro, 1925);
§ * O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas da Umbanda (Rio
de Janeiro, 1933);
§ * A Rosa Encarnada – romance espírita
(Rio de Janeiro, 1934);
§ * Getúlio Vargas (Rio de Janeiro, 1940);
§ * Transposição dos Umbrais (opúsculo
editado pela Federação Espírita Brasileira, editado em 1941, sobre a
conferência proferida na mesma federação em 1924, Rio de Janeiro).
Em 1924 surgem os primeiros
textos sobre o Kardecismo no jornal A
Noite onde relata suas experiências com os espíritos. Em busca
de matérias e encontros com o espiritismo prático, Leal de Souza depara-se com
trabalhos de Umbanda e acaba chegando a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade
(Figura 2).
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Figura 2. Trabalho no qual Leal de
Souza participou na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.
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Em sua primeira visita a tenda,
Leal de Souza desconhecido por todos os presentes e sem ser anunciado, foi
reconhecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. O mesmo dirigiu-se até ele e
disse: “Pode dizer que apertou a mão de um espírito. Á minha esquerda, está uma
irmã que entrou com tuberculose e a minha direita um irmão vindo do hospício.
Curou-os, aos dois, Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los” (CUMINO, 2015
p.56). Neste mesmo dia Leal de Souza presenciou a cura de um rapaz considerado
louco, realizadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.
Em 1925 o primeiro livro sobre Umbanda (Figura 3),
intitulado "No Mundo dos Espíritos" é lançado. Todos os artigos e crônicas escritas durante o ano de 1923
sobre sessões e manifestações espíritas na cidade do Rio de Janeiro são relatados, bem como sua ligação com Zélio de
Morais. Na Figura 4 um registro de um dos trabalhos realizados por Pai Quintino
o qual Leal de Souza acompanhou.“Depois de convertido ao
espiritismo, o Sr. Leal de Souza fez durante seis anos, com auxilio de cinco
médicos, experiências de caráter cientifico sobre essas práticas, e
principalmente sobre os trabalhos dos chamados caboclos e pretos” (SOUZA, LEAL
DE 1933, pg.6).
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Figura 3. Primeiro livro sobre
manifestação de espírito publicado por Leal de Souza
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Figura 4. Trabalho realizado por Pai Quintino o qual Leal
de Souza acompanhava.
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Desde então passou a trabalhar para a Umbanda,
aceitando a missão de dirigir a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma
das setes tendas mestras fundadas pelo Caboclo das 7 encruzilhadas. Esta tenda
foi fundada em 1918 estando à frente Gabriela Dionysio Soares (entidade chefe:
Caboclo Sapoéba), que por problemas pessoais não pôde dar continuidade aos
trabalhos. Por isso em 1933 Zélio de Moraes determina a Leal de
Souza, que assumisse a direção dos seus trabalhos na Tenda.
“O
chefe do terreiro dessa Tenda – presidente espiritual, - é o Caboclo Corta
Vento, da linha de Oxalá; seu substituto imediato, e o Caboclo Acahyba, da
Linha de Oxóssi, e eventuais Yara, da Linha de Ogum, Timbiry da
falange do Oriente, e o Caboclo da Lua da linha de Xangô” (LEAL DE SOUZA, 1933
pg 76).
Na
tenda Nossa Senhora da Conceição era realizada as sessões de caridade,
desenvolvimento mediúnico e de estudo cientifico. Na primeira quinta feira de
cada mês era realizada uma sessão com os dirigentes de cada tenda, na tenda
matriz, com o caboclo das 7 encruzilhadas – este fazia as observações
necessárias e passava as instruções para a realização dos próximos trabalhos.
Na
segunda sexta-feira de cada mês todos os médiuns de cada tenda trabalhavam na
tenda matriz, Nossa Senhora da Piedade; No terceiro sábado se reuniam na Tenda
Nossa Senhora da Conceição e no quarto na Tenda Nossa Senhora da Guia. Anualmente
faziam um retiro de vinte e um dias, realizavam ainda cerimônias diárias na
tenda e na casa de seus médiuns.
“E
pelo dever de assumir a responsabilidade social de minha investidura,
acrescento que sou o presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição, ou,
mais modestamente, o delegado humano incumbido, pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, de coordenar a ordem material necessária à execução dos
trabalhos espirituais”. (SOUZA, LEAL DE 1933 pg.76).
Em 1933 sua segunda obra, "O Espiritismo, a Magia e as
Sete Linhas de Umbanda" é lançado (Figura 6). É a primeira obra a detalhar
aspectos fundamentais da Umbanda, a exemplo das sete linhas brancas e os
orixás. É escrito com tanta clareza,
indo direto as questões essenciais da religião, que ainda nos dias de hoje é
muito atual e de leitura fundamental a todos os umbandistas. Na época era
uma heresia falar sobre o assunto, pois tudo a respeito era considerado
“macumba”.
Como a maioria dos fundadores e líderes que tiveram a missão de trazer algo novo da espiritualidade
para a matéria, Zélio de Moraes não produziu obra literária, mas preparou
mediunicamente alguns dos escritores da Umbanda como Leal de Souza (Dirigente
da Tenda Espírita Nsª. Sra. Da Conceição), Capitão Pessoa (Dirigente da Tenda Espírita
São Jerônimo) e João Severino Ramos (Dirigente da Tenda Espírita São Jorge),
destacando-se o primeiro - onde a iniciativa valeu-lhe então o mérito de
“Pioneiro” da literatura umbandista.
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Figura 6. Segundo livro publicado por Leal de Souza sobre
Umbanda.
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Leal de Souza ousou escrever sobre Umbanda em um jornal
de grande divulgação do Rio de Janeiro em 1932 (Figura 7), em plena repressão
da Ditadura Vargas. Foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica feroz,
ostensiva e pública, em defesa da Umbanda. Leal de Souza viveu em uma época
atribulada da política brasileira e, como jornalista, envolveu-se em confrontos
com muitos políticos e personalidades. Talvez por isso as suas memórias fossem
relegadas a um plano inferior na história dos escritores brasileiros. Isto dificulta
a pesquisa sobre a sua vida.
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Figura 7. Jornal de grande circulação
na cidade do Rio de Janeiro onde Leal de Souza publicava sobre Umbanda.
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Conviveu durante vinte e três anos, com Zélio de Moraes e
o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em suas falas sempre afirmava: “Não
esqueçamos que o labor desses espíritos tem duas finalidades: atrair a criatura
e ensina-la a amar e a servir o próximo. Com sua manifestação, pelo corpo dos
médiuns, provam a imortalidade da alma e os benefícios que fazem, servem para
elevar o beneficiário, pela meditação ao culto e ao amor ao Deus e, portanto, a
prática de suas leis”. (MATTA E SILVA, 1987).
Leal de Souza faleceu no dia 01 de novembro de 1948 aos
68 anos de idade, no Rio de Janeiro em sua residência. Um poema seu o Morte
e Encarnação foi psicografado por Chico Xavier e publicado no livro Antologia
dos Imortais, obra mediúnica, de 1963, que trata da imortalidade da alma.
Morrer!...
Morrer!... A gente crê que esquece,
Pensa
que é santo em paz humilde e boa,
Quando
a morte, por fim, desagrilhoa
O
coração cansado posto em prece.
Mas,
aí de nós!... A luta reaparece...
A
verdade é rugido de leoa...
A
floração de orgulho cai à toa,
Por
joio amargo na Divina Messe.
No
castelo acordado da memória
Ruge
o passado que nos dilacera,
Quando
a lembrança é fel em dor suprema...
Sempre
distante o céu envolto em glória,
Porquanto
em nós ressurge a besta fera
Buscando,
em novo corpo, nova algema.
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Atividade do Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita.
Pesquisa realizada pela médium Flávia dos Santos Etgeton e apresentada na Tenda na sessão do dia 26.11.2016
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REFERENCIAS
CULMINO,
Alexandre. Umbanda não é Macumba. 2
edição, 2015. Editora Madras.
MATTA
E SILVA. Umbanda e o Poder da
Mediunidade. 3 edição, 1987. Editora Freitas Bastos.