
A Linha da Justiça é compostas basicamente por Caboclos, Encantados e Pretos-Velhos.
Os Caboclos de Xangô geralmente são mais reservado, sérios, falam pouco, se movimentam pouco e tendem a ter falas duras quando resolvem discursar. Alguns quando incorporam, geralmente batem no peito e bradam com a intenção de demonstrar a rigidez das rochas e força da natureza que representam.
São entidades que exigem muito respeito por parte dos Umbandistas e costumam não gostar de brincadeiras, zelando pela rigidez e disciplina no trabalho.
Também dessa linha se manifestam muitos Encantados responsáveis por fenômenos da natureza como chuvas, tempestades, etc.
É interessante observar que antigamente era costume que as entidades fossem muito evocadas para a proteção de locais e pessoas contra fenômenos da natureza.
Pessoas que viviam em morros e tinham de conviver diariamente com a ameaça de deslizamentos por exemplo, costumavam rogar pelos Caboclos e Encantados dessa linha para livrá-los desse tipo de perigo.
Um terreiro que representa muito esse aspecto é o Instituto Cacique Cobra Coral localizado em Guarulhos e comandado pela médium Adelaide Scritori, que ficou famoso por realizar previsões e intervenções meteorológicas.
Inclusive esse instituto mantém contrato com a prefeitura de São Paulo e Rio de Janeiro até hoje para intervir energeticamente para que não chova em eventos como o Réveillon de Copacabana e o Rock In Rio, por exemplo.


Isso mostra o quanto às Linhas de Umbanda têm funções e ferramentas muitos mais amplas do que apenas o trabalho de atendimento de terreiro, bem como demonstra o quanto se aprofundar no estudo das linhas Tradicionais.
Função da Linha:
A função dessa linha consiste em equilibrar tudo o que compõem a natureza.
É dito que essas entidades estão relacionadas a fenômenos da natureza que representam a tentativa do planeta em equilibrar todo um ecossistema, como por exemplo queimadas e terremotos.
Eles mostram a conexão profunda e estreita que a Umbanda possui com tudo que concerne a natureza, nos fazendo perceber como estamos conectados a nosso ecossistema.
Por possuírem domínio sobre essas questões é dito que são capazes de fazer com que a Lei de Ação e Reação se cumpra, ou seja, atuam dentro da Umbanda fazendo com a Justiça seja feita e com que as consequências dos nossos atos cheguem até nós.
Podem ser evocados em causas judiciais para que os culpados paguem o que devem e os inocentes sejam ressarcidos pelo que sofreram. Como nos fala aquele ponto antigo: "Xangô morava pedreira, viveu escrevendo em uma pedra. Ele escreveu a justiça, quem deve paga e quem merece recebe!"
As falanges que compõem a Linha da Justiça
Agora que já conhecemos a regência, os tipos de espíritos que compõem a Linha e sua função dentro do Ritual de Umbanda, vamos nos debruçar sobre as falanges que a compõem.
A primeira falange - A falange de Santa Bárbara ou de Iansã
A primeira Falange da Linha de Xangô é regida por Santa Bárbara, Santa protetora contra os Raios e as Tempestades e que, em terras brasileiras, foi sincretizada com a Orixá Iansã.
As forças de Santa Bárbara em solo brasileiro são tão presentes e populares que inclusive comandam alguns cultos ao norte do Brasil.
Dentre eles podemos citar a Encantaria de Barba Soeira (corruptela das palavras “Santa Bárbara”) que também é conhecida como Terecô ou Tambor da Mata e que ganhou notoriedade graças ao saudoso Pai Bita do Barão, maior expoente desse culto.
Nesses cultos e na cidade de Codó - MA, como um todo é muito comum o uso do termo “Matas de Santa Bárbara”, simbolizando o controle que essa força exerce sobre os Encantados das Mata.
Já Iansã é uma Orixá que foi associada à esta santa justamente por também possuir domínio sobre a Guerra, as Chuvas, Relâmpagos e Tempestades. Sendo considerada o maior expoente do poder feminino dentro do panteão dos Orixás.
Essa é uma falange muito misteriosa mas que se tornou tão popular que acabou gerando algumas dissidências em alguns terreiros tradicionais.
Em alguns terreiros essa falange é considerada parte das 7 Linhas principais de Umbanda e em outros (como é o caso da nossa Tenda) é considerada parte da Linha da Justiça.
A Falange de Santa Bárbara ou Iansã, é composta quase que inteiramente por ESPÍRITOS FEMININOS, sendo em sua maioria Encantados. Esses espíritos geralmente se manifestam girando pelo terreiro como se estivessem manipulando e conduzindo os ventos.
São entidades que podem ser evocadas para movimentar situações que estão “paradas” como processos judiciais por exemplo e que também realizam trabalhos muito precisos curando as AFLIÇÕES emocionais das pessoas.
A palavra chave para essa linha é MOVIMENTO.
"Ventou... afastando de mim todo mal que havia.... Ventou... e o sol já raiou clareando meu dia! Tu és a razão do meu ser a minha companhia! À ti, eu entrego minha vida, minha estrela guia! Senhora dona dos ventos, dos raios do temporal... em sua companhia me sinto imune de todo mal..."
Tudo aquilo que está parado, em estado de apatia ou extremamente rígido pode ganhar movimento através da força dessa Linha.
Desde pessoas com um estado emocional de desânimo, negócios e comércios com poucos clientes, espíritos perturbadores que habitam os lares das pessoas, dentre outras coisas.
Nessa estrutura encontraremos a Legião das Caboclas dos Ventos e a Legião das Caboclas dos Raios, que são basicamente Caboclas que dominam as energias dos aspectos climáticos.
A Legião de Balè que é composta por espíritos femininos (geralmente encantados) que tem a função de conduzir eguns até o mundo dos mortos.
E também a Legião das Amazonas ou Icamiabas, que são espíritos da Tribo das Icamiabas.
As Icamiabas foram um grupo indígena composto por mulheres indígenas guerreiras que habitavam o norte do Brasil e que devido a sua semelhança com o mito das amazonas gregas antigas, deram o nome do estado do Amazonas como conhecemos hoje.
A segunda falange - A Falange do Caboclo do Sol e da Lua
A segunda falange da Linha da Justiça é comandada pelo Caboclo do Sol e da Lua, entidade que domina as forças positivas e negativas, passivas e ativas da natureza.
Pode-se dizer que os Caboclos que se manifestam nessa falange trabalham com “Astrologia”, no sentido de considerar as energias dos astros para realizar suas magias, colher ervas e realizar sua pajelança como um todo.
Essas entidades atuam no equilíbrio emocional das pessoas, serenando aquelas que estão profundamente ansiosas e elétricas, bem como trazendo vitalidade para aquelas que estão profundamente desanimadas.
Algumas das entidades que compõem essa falange são Encantados que guiavam os Pajés em seus rituais desde os tempos mais imemoriais.
Alguns Caboclos que comumente vêm desta falange são: Caboclo Guaraci, a Cabocla Jaci, o Caboclo Tupã, Caboclo 7 Luas, Caboclo 7 Estrelas, Caboclo Girassol, etc.
É importante salientar que comumente, não é NECESSARIAMENTE, ou seja, não é uma regra que os espíritos que apresentam esse nomes devem obrigatoriamente vir dessa falange. Isso é apenas um padrão que foi observado durante os anos.
Vamos sempre lembrar que a Umbanda não segue modelos fechados, como algumas vertentes mais novas buscam pregar.
Cada entidade trás uma história única e uma razão pessoal para usar um determinado nome.
Portanto, devemos tomar cuidado antes de associar que “todo Caboclo Pena Branca” é de Oxalá, por exemplo.
A terceira falange - A Falange do Caboclo Pedra Branca
A terceira falange da Linha da Justiça é comandada pelo Caboclo Pedra Branca, entidade muito associada ao uso de minérios em trabalhos espirituais e também a descoberta de pedras preciosas.
Os Caboclos e Encantados dessa falange também são conhecidos como “Povos das Montanhas”, justamente por compor entidades que em vida viviam nesses locais.
São Caboclos muito rudes, intensos e enérgicos que geralmente vem bradando e aparentam estar batendo pedras nas mãos.
Quando cantamos para o Orixá Xangô são geralmente essas entidades que incorporam.
Trabalham especialmente trazendo força e proteção energética para o corpo astral dos médiuns, tornando-os menos afetados pelas energias densas que são movimentadas durante os trabalhos.
A palavra chave dessa linha é FORÇA.
São evocados para trazer fortalecimento energético, mental, emocional e espiritual para todos aqueles que buscam a sua ajuda.
São espíritos de uma sabedoria imensa, devido ao fato de em vida terem vívidos em lugares de tão difícil acesso e sobrevivência, como são as montanhas, morros e serras.
Os Caboclos que geralmente vem desta falange são o Caboclo 7 Montanhas, Caboclo 7 Pedreiras, Caboclo Serra Negra, Caboclo Pedra Preta, dentre outros.
A quarta falange - A Falange do Caboclo Ventania
A quarta falange é comandada pelo conhecido Caboclo Ventania.
Os Caboclos desta falange são conhecidos por comandar algumas entidades conhecidos Silfos e Sílfides, que nada mais são do que elementais do ar, ou seja, entidades que dominam os ventos e outros aspectos relacionados ao ar.
Eles usam essas entidades para resolver causas rápidas e urgentes, tanto em questões Judiciais quanto causas relacionadas a Saúde.
Portanto são evocados em momentos que precisamos de uma resolução rápida e cirúrgica que não podem esperar.
São entidades que atuam com grande poder de cura em quase todos os quadros mentais como esquizofrenia, por exemplo.
Por fim, é dito que eles são responsáveis por cumprir as “sentenças” emitidas na Linha de Xangô. São aqueles que literalmente fazem com o que o “Karma” ou as consequências dos nossos atos cheguem até nós.
Ou seja, se você fizer algo errado perante a Lei de Umbanda serão eles e os Pretos Velhos Quenguelês (e não os Exus como é dito nas novas Umbandas) que serão os responsáveis por trazer as consequências e te fazer pagar pelos seus atos.
A quinta falange - A Falange do Caboclo 7 Cachoeiras
A quinta falange é comandada pelo Caboclo 7 Cachoeiras ou também conhecido Caboclo Cachoeira ou Cachoeirinha.
É sem dúvida a falange mais versátil da Linha de Xangô, podendo atuar em várias frentes.
Os Caboclos desta falange são grandes conhecedores do ciclos da natureza, sabendo quando haverá cheias nos rios, quando as cachoeiras terão precipitações de água mais fortes, etc.
Portanto podem atuar avisando quando desastres naturais estão por vir para que nos protejamos.
Esses Caboclos também sabem usar as fases da Lua, as estações do ano e diversos outros ciclos da natureza para realizar magias específicas e muito precisas para diversos fins.
Isso faz deles grandes “feiticeiros” para atuar em diversas situações desde a quebra de demandas até aspectos de prosperidade.
Essa falange também trás energização pessoal e vitalidade para aqueles que os pedem ajuda.
É dito que eles costumam reestruturar o campo energético de pessoas que passaram por longos períodos sob alguma obsessão espiritual, literalmente curando as feridas astrais que surgem nesse tipo de processo.
São Caboclos que trabalham lado a lado com a Linha das Matas, podendo até vir algumas vezes durante as giras dos Caboclos de Oxossi e dar consultas, pois são muito mais habituados a lidar com nós os encarnados.
A Sexta falange - A falange do Caboclo Treme-Terra
O Caboclo Treme-Terra também é tido como um encantado e muitas das entidades dessa falange também o são. É dito que são espíritos da natureza responsáveis pela atividade geológicas da terra. (Ler questão 537-A do Livro dos Espíritos).
Nesse caso vale lembrar que dentro da linha da Justiça, existem espíritos que atuam trazendo equilíbrio EM TODA A NATUREZA, ou seja, algumas entidades que compõem essa falange atuam gerando terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis e outros fenômenos da natureza que nada mais são que uma forma de reequilibrar todo um ecossistema.
Essa falange representa a máxima de que para que algo novo possa ser construído algo ultrapassado deve ser destruído. Somente através do choque, pode-se alcançar a harmonia.
Essa analogia pode ser levada desde fenômenos da natureza, até a destruição de padrões emocionais ultrapassados e rígidos nos impedem de alcançar a harmonia e evoluir.
As palavras chaves desta falange são ESTABILIDADE e CONSTÂNCIA.
Isso porque essas entidades trazem aquele aspecto firme, equilibrado e inabalável dos Caboclos de Xangô.
Portanto, podemos evocar essas entidades em momentos em que nos sentimos muito afetados pelos acontecimentos externos, nos momentos em que tudo parece dar errado e precisamos nos manter firmes.
O símbolos desta falange são a Machadinha e o Tacape e suas cores são o Marrom, Branco e Vermelho.
Curiosamente esses Caboclos não costumam se apresentar como indígenas brasileiros, mas sim Africanos de pele negra, remetendo aos povos nativos africanos antes da colonização.
A sétima falange - A Falange dos Pretos Quenguelês
A falange dos Pretos-Velhos Quenguelê é um subgrupo da Falange de Moçambique que atua na Linha da Justiça. É chefiada por Pai Quenguelê, um Preto-Velho extremamente enérgico.
Quenguelê significa “Tomar conta” ou “Zelar” e representam muito bem o trabalhos dessas entidades.
Isso acontece pois os Pretos-Velhos desta falange são verdadeiros árbitros, juízes e executores da Umbanda.
São responsáveis por fazer os médiuns e o terreiro andarem na linha. Eles NÃO DÃO CONSELHOS, eles executam ações para corrigir as pessoas.
São figuras extremamente fortes e na Umbanda antiga eram realizadas giras especiais para essas entidades para que elas pudessem orientar os médiuns e os dirigentes a respeito de como as coisas deveriam ser feitas.
Caso as coisas não se desenrolassem da maneira como foi orientada, eram esses mesmos pretos-velhos que faziam as consequências das irresponsabilidades chegarem até os merecedores.
São pretos-velhos muito tradicionalistas e imparciais, muito diferente dos pretos-velhos “bonzinhos” que estamos acostumados a ver.
Eles são literalmente o braço da magia e do feitiço dentro da Linha de Xangô.
São esses Pretos-Velhos que acabam por “devolver” ou “rebater” demandas feitas por feiticeiros encarnados e desencarnados contra os terreiros e os adeptos, quando julgam tais ações justas perante as Leis da Natureza.
Trabalho prático da Linha: